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Revista da CAASP - Edição 22---

PERFIL \\ Refúgio literário Advogado que sofre do Mal de Parkinson conforta-se com a literatura. E conta com o apoio da CAASP Após uma curta travessia, Ulisses e seus companheiros descobrem uma caverna e ali se instalam. À noite, o dono daquele antro, um ciclope - gigante imenso, com um olho só, bem no meio da testa - retorna. O monstro fecha a entrada com uma pedra enorme e em seguida nota a presença dos gregos. Ele os ataca. Ulisses, furioso, prepara-se para matar o monstro, mas lembra-se de que só ele tem força para afastar a pedra gigantesca que fecha a entrada. Oferece-lhe, então, um vinho trazido do navio, o qual o ciclope esvazia de um só gole. “Como se chama?”, pergunta o monstro. Ulisses, esperto, responde: “Meu nome é Ninguém”. De tanto beber o ciclope cai no sono. Os gregos enfiam no único olho do gigante um galho de oliveira. O gigante dá um berro. Todos os ciclopes das redondezas acorrem para ver o que aconteceu. “Que foi?”, perguntam. “Furaram meu olho”, ele responde. “Quem fez isso?”, “Ninguém! Ninguém é o culpado!”. Os ciclopes entreolham-se, e então se afastam, dizendo que o amigo enlouqueceu. O advogado Alexandre José de Oliveira, de 41 anos, fez questão de narrar à Revista da CAASP o trecho da “Odisseia”, de Homero, seu livro favorito. “Ulisses era um estrategista”, define Alexandre, que desde 2012, quando teve de interromper sua atividade profissional devido a problemas de saúde, encontrou na leitura um refúgio. Alexandre nasceu na cidade de Guaxupé, município no sul do Estado de Minas Gerais. É o caçula de uma família de 10 irmãos. Veio para São Paulo em 1995. Como muitos, carregava o sonho de uma vida melhor na cidade grande. Em 2003 tornou-se o primeiro da família a conquistar um diploma de curso superior. Formou-se em Direito, pelo Instituto Municipal de Ensino Superior de São Caetano do Sul, hoje Universidade Municipal de São Caetano do Sul. A Carteira de OAB veio um ano depois, em 2004. Durante anos, atuou nas áreas cível e de família. Também trabalhou na Assistência Judiciária. “O Direito é uma área bem difícil, tem que gostar muito. E eu gosto”, afirma. A carreira, no entanto, foi interrompida pelo diagnóstico de Mal de Parkinson - doença neurológica, crônica e progressiva, sem causa conhecida, que atinge o sistema nervoso central e que compromete os movimentos. “O susto do diagnóstico foi grande”, lembra. Na maioria dos casos o Parkinson surge partir dos 55-60 anos, tendo sua prevalência aumentada a partir dos 70. Na época em que os sintomas começaram, em 2012, o advogado tinha apenas 38 anos. “Eu cheguei a trabalhar um período após o diagnóstico, mas depois percebi que não dava mais. 26 // Revista da CAASP / Abril 2016 Alexandre, advogado socorrido pela Caixa de Assistência. Ricardo Bastos


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