\\ Remissão de Pena Romance de Patrick Modiano, autor laureado com o Nobel de Literatura em 2014, é uma tessitura de memórias de infância em um subúrbio de Paris no pós-guerra. Por Luiz Barros* Buscando novidades para apresentar na seção Cultura da Revista da CAASP, fui às livrarias à cata de um livro da escritora bielorrussa Svetlana Alexievich, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura em 2015, mas não há traduções de sua obra em português, ainda. Encontrei nas prateleiras três romances de Patrick Modiano, escritor francês com 30 livros publicados, ganhador do Nobel de Literatura em 2014. Os três únicos livros do autor editados no Brasil estão em primeira edição e foram publicados em 2015. Fotos WEB Academia Sueca, templo do Prêmio Nobel 30 // Revista da CAASP / Fevereiro 2016 Nunca é demais apontar os paradoxos do mercado editorial brasileiro. Descontada retração ocorrida no ano passado em virtude da crise econômica, editoras e livrarias não param de crescer nos últimos tempos, ao passo que pesquisas indicam que o brasileiro cada vez lê menos. Pesquisa da Federação do Comércio do Rio de Janeiro – Fecomércio-RJ, de abril de 2014, indica que 70% dos brasileiros não leram sequer um livro no ano anterior. Mas aqueles que leem, estão lendo o quê? É inquietante notar que nos dois últimos anos, para não dizer de outros, os vencedores do Nobel de Literatura são escritores desconhecidos do leitor brasileiro tanto quanto das editoras, que somente os publicam, muita vez timidamente e por mero dever de ofício, após serem laureados com o máximo prêmio mundial. É um atestado do atraso que condena o país à periferia cultural, salvo naquilo que é revestido de modismos e embalado em exuberante marketing. Naturalmente o Nobel de Literatura não é um critério universalmente aceito como sendo a palavra final no julgamento de grandes escritores, em especial quando se apontam os casos de autores consagrados e de primeiro time que foram preteridos pela Academia Sueca. Porém, de toda forma, o Nobel é um critério respeitável a ser considerado no universo literário e sempre há de nos interessar conhecer os escritores vencedores do prêmio. Feitas estas considerações, vamos aos livros de Patrick Modiano. São leituras leves, escritas em estilo simples e fluente, tratando de temas que mesclam memórias, fantasia e ficção. Remissão da pena, originalmente lançado em 1988, narra experiências da infância do autor num subúrbio de Paris na década de 1950. Há uma sucessão de paisagens, personagens e episódios, mais caracterizados por sutis descrições do que propriamente por uma narrativa linear. A narrativa como que se tece sozinha, por conta própria e por obra do leitor, emergindo da junção dos fragmentos. Com poucas palavras e a repetição de características marcantes dos personagens, o autor nos leva ao universo onírico de sua infância – e da nossa –, de onde surgem imagens indeléveis que todos guardamos de quando éramos crianças. Junto à breve rememoração de fatos existe a evocação de sensações. O autor é mestre na criação de um clima que é ao mesmo tempo originalíssimo pelas peculiaridades da história porém evocativo da infância de todos os meninos.
Revista da CAASP - Edição 21
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