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Revista da CAASP - Edição 20

\\ Reprodução Depois de dois anos encarcerado, Alex aceita servir de cobaia de um tratamento que teria o condão de transformar facínoras em figuras angelicais. “Ele assassinou brutalmente uma mulher durante um assalto”, diz o oficial. “Então ele serve”, sentencia o criador do novo método, denominado Tratamento Ludovico. A técnica consiste na visualização persistente da violência, em suas diversas formas, aliada à ministração de uma droga que provoca insuportável desconforto. Ao término das torturantes sessões, filmadas por Kubrick em alternância entre close-ups e planos ampliados, Alex está “curado”, e sua transformação inclui também o repúdio, pelo desconforto físico, aos apelos sexuais de uma linda mulher. O áspero diálogo que se dá entre o pároco e o ministro do Interior nessa hora resume um pouco a forma de pensar e agir dos detentores do poder. Esbraveja o padre: “Ele deixou de ser um malfeitor, mas também deixará de fazer suas escolhas morais!”. Retruca o político: “Isso é irrelevante, padre”. Kubrick, perfeccionista das imagens e ácido crítico da Reprodução 42 // Revista da CAASP / Dezembro 2015 Método Ludovico: superexposição como cura Desde as primeiras cenas de Laranja Mecânica, Alex, um apaixonado por Beethoven, a quem se refere como Ludwig Van, cativa o expectador. Seus atos extremamente cruéis, seus enormes cílios postiços em um olho só, seu histrionismo, sua voz e seu sotaque peculiares a narrar o filme em off, como era comum nos filmes noir dos anos 1940 e 1950, não nos fazem odiá-lo. Ódio sentimos das autoridades que lhe tomam o livre-arbítrio. Era essa a intenção de Kubrick? Pelo que o diretor disse ao crítico Michel Ciment, no livro “Conversas com Kubrick”, a resposta é sim: “Laranja Mecânica trata de imoralidade em privar um homem de sua faculdade de escolher livremente entre o bem e o mal, mesmo se isso é feito na intenção de melhorar sociedade a sociedade – digamos, para reduzir a onda de criminalidade. Por outro lado, ela faz a sátira da tentativa do governo de introduzir condicionamentos psicológicos para restaurar a ordem e a lei. Tudo isso está ligado à vontade de organizar cientificamente a sociedade”. O desfecho de Laranja Mecânica, com o protagonista curado da “cura”, em consequência de trágico reencontro com uma de suas vítimas do passado, não poderia deixar mais claras as intenções de Stanley Kubrick. Potencial detrator do governo e denunciante de seus métodos reformatórios, Alex é procurado pelo ministro do Interior, que lhe oferece um bom emprego em troca de cooperação. O sorriso do jovem nesse momento é de satisfação plena. “Eu estava mesmo curado”, diz a voz em off (PHA). Advogado, envie um e-mail para vendasdiretas@cherybrasil.com.br e aproveite. TODA LINHA COM ATÉ:


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