Page 39

Revista da CAASP -Edição 17

Em nome do pai Filme de 1993 retrata excessos e desvios da polícia e dos austeros tribunais ingleses nos turbulentos anos do combate ao terrorismo do IRA - Exército Republicano Irlandês. O filme, baseado em fatos, gira em torno de um atentado à bomba praticado pelo IRA, em 1974, a um pub em Guildford, na Inglaterra. Segundo se narra, na época a Lei Anti-Terror britânica permitia a prisão de quaisquer suspeitos, sem indiciamento, por sete dias, prazo suficiente para que experts em tortura física e psicológica obtivessem quaisquer confissões, até de inocentes. Personagem de Daniel Day-Lewis incorpora Gerry Conlon, torturado e condenado injustamente Junho 2015 / Revista da CAASP // 39 Trata-se de mais uma ilustração dos erros a que se sujeitam as autoridades policiais, judiciárias e políticas quando instadas, em regime de legislação extraordinária, a dar rápidas e fulminantes respostas ao inimigo, na urgência de apresentar satisfações à opinião pública que clama por vingança e justiça a qualquer preço. Consta que a partir de 2008, nas cortes inglesas os juízes foram dispensados de usar as longas perucas brancas e as tradicionais togas medievais, que foram substituídas por outras. Porém, não em todas as cortes. Nas cortes criminais a tradição se manteve. Seja como for, nas primeiras cenas do filme Em Nome do Pai, vemos a advogada Garret Pierce (Emma Thompson) dirigindo seu automóvel, tendo ao lado, no banco do carro, a distinta peruca branca, curta, que usará no tribunal, enquanto mais uma vez ouve numa fita cassete a história que lhe narra Gerry Conlon (Daniel Day-Lewis), sentenciado à prisão perpétua, e preso há quinze anos por assassinatos que não cometeu: não foi ele que bombardeou o pub em Guildford, nem qualquer outro lugar. Gerry era um jovem rebelde que na Belfast dos anos 1970, sem oportunidades de trabalho e em atitude de desafio ao pai (Pete Postlehwaite), praticava com amigos pequenos roubos. Belfast estava ocupada militarmente pelo exército inglês e o IRA oferecia resistência armada, em células escondidas em casas na cidade, de onde comandava ataques à bomba a alvos civis na Inglaterra. A delinquência juvenil de Gerry e seus amigos, por açular os soldados ingleses, punha em risco esconderijos do IRA: por isto seus chefes impunham disciplina de guerra a quem os expusessem, com violentas punições físicas ou até matando-os. Num desses episódios, o IRA estava prestes a punir severamente Gerry, que nada tinha a ver com os guerrilheiros, quando foi salvo pelas súplicas do pai ao líder do IRA, naquela Belfast em que todos se conheciam. Nesse momento, no entanto, ouviu do líder do grupo que Gerry não tinha futuro ali, não sobreviveria. WEB


Revista da CAASP -Edição 17
To see the actual publication please follow the link above