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Revista da CAASP -Edição 16 - Final - 1

SAÚDE \\ Da crise hídrica à crise de saúde pública Em fevereiro, a operação da Sabesp que diminuiu a pressão das torneiras em todos os bairros da capital paulista completou um ano. Justificada inicialmente como uma tentativa de reduzir o consumo e a perdas nas tubulações, a ação, na prática, fez com que muitas regiões, especialmente as mais altas, ficassem com as torneiras literalmente secas durante horas. Nem isso serviu para que a companhia reconhecesse o rodízio de água na prática. Duas pesquisas do Datafolha dão a dimensão dos transtornos da operação. Em maio de 2014, segundo o instituto, 35% dos paulistanos afirmaram ter tido o fornecimento de água interrompido. Em fevereiro de 2015, eram 71%. Ao assumir a presidência da Sabesp, em janeiro último, Jerson Kelman informou que a redução da pressão irá se intensificar ao longo de 2015, o que trará mais sofrimento à população. A manobra faz com que a Sabesp economize cerca de oito mil litros de água por segundo. A fim de criar estoque para suportar as horas de torneira seca, a população adotou de forma autônoma o armazenamento de água. Como todos sabem, água armazenada indevidamente é fator determinante para a proliferação do aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue. E a dengue explodiu na capital e em diversas cidades do interior que vivem situação hídrica semelhante. Eram 258 mil pessoas infectadas no Estado de São Paulo até o fechamento desta edição, mais da metade dos 460 mil registros de dengue este ano em todo o país e sete vezes mais que o registrado no mesmo período do ano passado. Segundo o Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan), Sorocaba é a cidade paulista com maior número de casos registrados, seguida de Catanduva e da capital. 30 // Revista da CAASP / Abril 2015 Reportagem de Karol Pinheiro A cidade mais populosa do Brasil vive uma cena quase apocalíptica: a possibilidade de que seus reservatórios de água sequem por completo. A ausência de chuvas causou a São Paulo sua pior crise hídrica dos últimos 84 anos. As ações da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) para reduzir o consumo fazem com que os paulistanos busquem soluções próprias, como a perfuração de poços artesianos, compra de água de caminhões-pipa, armazenamento em casa de água de chuva, entre outras. Os novos hábitos, no entanto, representam mais do que um jeitinho para se manter abastecido. São precedentes para uma crise de saúde pública. Pedro França - Agência Senado/Fotos Públicas


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