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Revista da CAASP -Edição 15

\\ Confiava-se, também, que nem mesmo o Talibã mataria uma criança: e assim o foi. Mas, aos 15 anos ela foi baleada, pois pela tradição não era mais criança. Passou por quatro hospitais para receber os socorros médicos, que incluíram várias cirurgias cranianas e faciais. Este momento da narrativa é especialmente dramático, não apenas pelas decisões médicas envolvidas como pelas questões políticas levantadas pela situação, e pela logística operacional militar para garantir sua segurança evitando novos atentados. Após os dias iniciais de recuperação, a reabilitação que demorou meses foi no exterior, em Birmingham, no Reino Unido, onde Malala hoje vive com a família. Feito o arranjo com o hospital inglês, ela foi transportada até a Inglaterra no jato particular da família que governa os Emirados Árabes Unidos: “Dizem que é o auge do luxo, com uma cama de casal, dezesseis assentos de primeira classe e um mini-hospital na parte traseira, com uma equipe de enfermeiras europeias chefiadas por um médico alemão. Só lamento não ter estado consciente para desfrutar”, ela narra com humor. Eu sou Malala é um livro instrutivo e emocionante, que mescla a história pessoal da menina, em tom confessional, a um apanhado histórico do Paquistão desde sua fundação em 1947, descrevendo a condição da mulher paquistanesa, com foco nos anos críticos da talibanização do vale do Swat. O ataque surpresa dos fuzileiros navais Seals a Abbottabad, onde mataram Osama Bin Laden, é também apresentado no texto, com comentários variados sobre o jeito paquistanês de enxergar o episódio. Malala é uma menina. Afora a militância que quase lhe custou a vida e a levou aos píncaros da respeitabilidade e da honra, antes do atentado, quando morava em Mingora, sua cidade natal, Malala Yousafzai era apenas uma menina como suas amigas de escola e como milhões de outras adolescentes no mundo. Escola destruída pelo Talibã no Paquistão 42 // Revista da CAASP / Fevereiro 2015 Fã de Justin Bieber, fechava-se no quarto com suas amigas para dançar. Briga e faz as pazes com sua melhor amiga o tempo todo. As vampiras da série Crepúsculo a fascinavam e o seriado Betty, a Feia na época a inspirava a ser jornalista. Antes de o Talibã cortar a TV a cabo, gostava de assistir ao programa Masterchef. Estudiosa, competia pelo primeiro lugar na classe com duas de suas colegas, e participava dos concursos de oratória. Entre suas leituras, cita Oliver Twist, Romeu e Julieta e O Alquimista, por sinal comentando que Paulo Coelho não seria igualmente otimista se conhecesse o Diego Ibarra Sanchez/NYTNS Talibã e os políticos paquistaneses. Aos 11 anos tentava entender Uma breve história do tempo, de Stephen Hawking, uma leitura improvável, ou surpreendente, eis que Malala declara no livro sua dificuldade com a física, que todavia a fascina.


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