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Revista da CAASP - Edição 13

Voltando às operadoras, parece que elas são meio oportunistas, exercem um lobby muito forte. A ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) não faz a mediação, como deveria, da relação entre as operadoras e os prestadores de serviço – os médicos não têm os reajustes que os planos aplicam aos pacientes. E houve até ex-diretor de operadora que se tornou presidente da ANS... (risos) O poder vem de quem tem recurso, e nós estamos nessa fase. Esta é uma fase pela qual todos os países passaram, a fase em que os que têm recursos mandam. É a história de que quem pode manda, quem tem juízo obedece. Mas nós estamos saindo dessa fase, estamos podendo discutir esses problemas. Há países em que não se consegue discutir o problema. Estamos discutindo e estamos melhorando. Essas distorções do sistema de saúde vão sendo corrigidas, não tenha dúvida de que isso é uma questão de tempo. Eu não estou pedindo para o senhor criticar seus colegas, mas qual a parcela de culpa da classe médica em tudo isso? Cobranças por fora, por exemplo, não são raras. A classe médica em geral é parecida com a sociedade em geral. Na sociedade tem gente muito boa e tem gente muito ruim, e nas classes profissionais é igual. A medicina é uma profissão que não foi feita para o médico. Outubro 2014 / Revista da CAASP // 17 Como assim? A medicina é uma profissão que foi feita para ajudar o doente, mas tem gente que pensa que foi feita para ajudar o médico. Como é que se corrige isso? Leva tempo. Como o senhor avalia a política de medicamentos no Brasil? Nossa política de medicamentos, hoje, tem benefícios que nunca teve. Grande parcela da população recebe medicamentos de graça. Grande parcela da população recebe seus medicamentos em casa. Os genéricos – que tiveram como mola o então ministro José Serra, embora o projeto fosse do ministro Jamil Haddad, que não conseguiu implementá-lo – são uma realidade. Estamos caminhando. Mas nossa carta de genéricos é bem limitada, não? Claro que é limitada, porque os laboratórios farmacêuticos oficiais sofrem uma grande concorrência dos laboratórios farmacêuticos multinacionais. Não pense que os laboratórios internacionais estão querendo resolver nosso problema – eles só querem ganhar dinheiro.


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