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Revista da CAASP -Edição 12_-

ESPECIAL \\ A CORRUPÇÃO NOSSA DE CADA DIA Não há esfera de poder livre dessa prática que Boas iniciativas para combatê-la surgem pelas 22 // Revista da CAASP / Agosto 2014 destrói o país. mãos de advogados. Reportagem de Paulo Henrique Arantes É possível dizer quanto escorre a cada ano pelo ralo da corrupção brasileira? As pessoas mais envolvidas com análises desse tipo afirmam que não, pela simples razão de que os corruptos, ativos ou passivos, costumam saber como manter seus atos nas sombras. O que vem a público é muito pouco. Em 2012, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) apresentou um estudo no qual estimava em R$ 50,8 bilhões, no mínimo, o montante de recursos consumidos anualmente pela corrupção no Brasil, dinheiro suficiente para construir 57 mil escolas ou 908 mil moradias do programa governamental Minha Casa Minha Vida. Na verdade, pouco importa se a Fiesp acertou, errou ou passou de raspão pelo custo anual da corrupção. Relevante é a percepção de que cobrar – e pagar – propina, superfaturar obras, fraudar licitações, desviar dinheiro e tantos outros hábitos criminosos fazem parte da rotina dos setores público e privado, abarcam os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e disseminam-se nos níveis federal, estadual e municipal. Na luta contra a corrupção e os corruptos, algumas das iniciativas mais vigorosas partem de advogados, como se verá ao longo desta reportagem. São de advogados também as leituras mais precisas dessa triste realidade. “As raízes da corrupção estão na nossa formação colonial, a partir de valores extrativistas que criaram um descompromisso da sociedade com qualquer valor moral”, afirma Modesto Carvalhosa, coordenador da obra “O Livro Negro da Corrupção”, que em 1990 esmiuçou o Caso PC Farias e em 2013 foi relançada em meio virtual. “Ao se urbanizar, o país não criou no seio da sociedade urbana nenhum princípio de honra. A escola é péssima, o trabalho também. A família não é um núcleo de valorização de princípios. A sociedade não tem referência de valores”, constata Carvalhosa.


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