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Revista da CAASP -Edição 12_-

\\ EENNTTRREEVVIISSTTAA Os métodos da ‘Ndrangheta são diferentes dos métodos da Cosa Nostra, máfia de origem siciliana, e da Camorra, napolitana? Vamos acrescentar a essa lista a Sacra Coroa Unida, que é da região da Puglia, por um único dado de interesse: ela nasce como o PCC, dentro dos presídios. A Cosa Nostra, como a ‘Ndrangheta, é uma organização com vértice, órgão de governo, cerimônia de iniciação. É hierarquizada a partir de suas próprias normas. Fotos Ricardo Bastos Parênteses: o Papa tocou no ponto do sincretismo mafioso, ou seja, a máfia ocupando espaços religiosos. Vamos imaginar, por exemplo, uma procissão com o mafioso carregando o andor; vamos imaginar uma missa com o mafioso na primeira fila. Vários filhos de mafiosos casaram e, quando da celebração do casamento, no altar foram lidas cartas do Papa Bento XVI abençoando a família. Como isso ocorre? Eles conseguiram se infiltrar na Cúria Romana. Por evidente, não era o Papa quem fazia isso, mas o Papa assinava o prato pronto. Mas, veja o poder de infiltração! Impossível não perguntar sobre o Banco do Vaticano e aquela figura para lá de sinistra que foi Paul Marcinkus, arcebispo que o presidiu de 1971 a 1989. Graças ao Papa Francisco, hoje se faz um trabalho de levantamento sobre o Banco do Vaticano, inclusive com incentivo internacional. Quando Bento XVI caiu, organizações internacionais de estados laicos cortaram o acesso ao Banco do Vaticano. Foi um dia interessante, porque turistas que visitavam o Vaticano não conseguiram retirar dinheiro nos terminais, e o pagamento para tíquetes de entrada na Capela Sistina e outros museus foi tirado do ar por redes internacionais. Cortou-se qualquer ligação interbancária com o IOR - Instituição para Obras Religiosas -, denominação correta do Banco do Vaticano. Cortou-se por causa da lavagem de dinheiro. Há uma quantidade enorme de correntistas num estado pequeno demais – há mais correntistas do IOR do que população no Vaticano. Você lembrou do tempo do Marcinkus, mas não se deve esquecer: quem operava no Banco do Vaticano era Michele Sindona. Ele estourou vários bancos, era um financista ligado ao então primeiro-ministro italiano Giulio Andreotti, este condenado definitivamente por associação com a máfia. Andreotti foi primeiro-ministro sete vezes, mas foi salvo pela prescrição, e continuou senador vitalício até a morte, há pouco tempo. Sindona fez operações desastrosas para o Banco do Vaticano, e era conhecido como “o banqueiro de Deus”, ou “o banqueiro da máfia”. 10 // Revista da CAASP / Agosto 2014 “A máfia conseguiu se infiltrar na Cúria Romana”


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