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Revista da CAASP - Edição 11 --

O diretor Stanley Kramer: atores geniais nos papéis centrais. Junho 2014 / Revista da CAASP // 47 até a cidadezinha sulina para atuar na causa. O advogado  William Jennings Bryan, conhecido político religioso conservador, que por três vezes havia sido candidato à presidência dos EUA, assumiu o papel de principal acusador do réu, atuando junto ao promotor local. Pela defesa, atuou o igualmente célebre advogado Clarence Darrow, militante da União Americana pelas Liberdades Civis e um dos mais famosos oradores dos EUA. Destacando-se em meio a seus colegas de imprensa, foi marcante a atuação de H. L. Mencken, considerado o mais influente jornalista e crítico social americano da primeira metade do século XX, um convicto agnóstico de estilo mordaz e demolidor. De sua pena irreverente teria saído, inclusive, o nome satírico pelo qual o julgamento é conhecido até hoje: The Monkey Trial. Com a maestria que lhe é característica, o diretor Stanley Kramer reconstitui o clima do julgamento de 1925 no filme “O Vento Será tua Herança”, valendo-se de uma trinca de excepcionais atores para os papéis centrais: Fredrick March e Spencer Tracy, como os advogados e Gene Kelly como o jornalista. A história do julgamento guarda revelações não relatadas no filme. Logo após a promulgação da lei que proibia o ensino da evolução nas escolas e universidades do Tennessee, a influente União Americana pelas Liberdades Civis publicou um anúncio oferecendo apoio a quaisquer professores que se dispusessem a romper a lei e submeter-se a um julgamento “teste” sobre a proibição. Um grupo de cidadãos de Dayton teria visto nisto uma boa oportunidade de publicidade para sua cidadezinha esquecida e tomado a iniciativa de envolver o professor na trama, que, consultado, aceitou sujeitar-se ao papel. Em função disto, ainda hoje, na internet há denúncias de inspiração religiosa fundamentalista visando a desqualificar o “Julgamento do Macaco” como sendo uma farsa publicitária. Em parte isto é verdade, e o filme de Stanley Kramer insinua aspectos meramente midiáticos e comerciais envolvidos no julgamento. Porém, não houve farsa na denúncia da questão de fundo, relativa à proibição do ensino laico na educação pública. Era disto, afinal, que se tratava o julgamento e o Butler Act, de 1925, contendo essa proibição, somente veio a ser revogado em 1967, quarenta e dois anos depois. (Luiz Barros)


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