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Revista da CAASP -- Edição 07--

que é levada a cabo por uma máquina, de forma automática, brutal e pretensamente asséptica. (Para um debate atual sobre a obra, assista ao vídeo acessível por este link: http://www.conjur.com. br/2013-jul-12/direito-literatura-colonia-penal-escritor-tcheco-franz-kafka.) Para além da crítica ao Direito, aqui a serviço da denúncia política e social – o escritor anteviu os horrores do nazismo e de todos os regimes totalitários modernos – nesses trabalhos e no conjunto de sua obra Kafka retrata o isolamento e a solidão do homem, seu desespero e angústia frente a forças do destino que desconhece e não controla. Ele trata da natureza humana e sua miséria, trazendo à luz a culpa universal que todos carregamos, alguns sequer sabendo disto e amiúde projetando a própria culpa sobre terceiros. Outubro 2013 / Revista da CAASP // 45 A literatura de Kafka remete à ideia de metáforas. Porém o escritor, que muito meditou sobre sua própria escrita, deplorava metáforas. Para ele, “as metáforas são uma das coisas que me fazem desesperar da literatura” (Diário de 1921, apud Deleuse e Gattari). Não sendo metáforas da realidade, suas obras seriam metamorfoses? Eis uma chave para tentar entendê-lo. Para Kafka todos os elementos de suas criações são antes metamorfoses da realidade do que metáforas que buscassem retratá-la. Assim é o seu uso peculiar do idioma alemão – o alemão de Praga no início do Século XX, impregnado pelo tcheco e pelo iídiche –, assim é o universo deformado de suas histórias, absurdas nos personagens, ambientes e narrativas. “A metamorfose é o contrário da metáfora”, afirmam Deleuse e Gattari ao discorrerem sobre o estilo de Kafka. Não se trata de representar a realidade mediante símbolos. Trata-se de calcar sobre a realidade deformações que realçam a intensidade daquilo que se busca retratar. Em suma, metamorfoseando-se a realidade, ainda assim ela não deixa de ser real. Essa vertente permite identificações de Kafka com o expressionismo, um movimento de vanguarda com raízes no Século XIX e que no início do Século XX ganha força e influencia a literatura, a pintura, a arquitetura, o cinema. Os expressionistas privilegiavam a “expressão” da realidade a partir de suas percepções internas, subjetivas, utilizando-se de distorções que acentuavam os traços marcantes de sua visão do mundo. Ao ver a morte aproximar-se, Kafka escreveu A Metamorfose, sua fantástica novela obituária, em que o personagem Gregor Samsa um belo dia acorda e percebe-se transformado num gigantesco


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