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Revista da CAASP -- Edição 07--

Ricardo Bastos Belluzzo: “Comércio mundial é feito de protecionismo e livre-mercado ao mesmo tempo” Outubro 2013 / Revista da CAASP // 27 Receitas de crescimento Todos concordam que a conduta do governo Lula quando da eclosão da crise financeira em 2008, estimulando o consumo e facilitando o crédito, foi acertada naquele momento, pois impediu uma recessão profunda e acabou por provocar um crescimento de 7,5% do PIB no ano seguinte. Todos concordam também que o modelo de crescimento baseado no consumo interno não pode prosseguir sem o avanço concomitante da produção. A hora, portanto, seria de inflexão. O professor Yoshiaki Nakano não enxerga possibilidade de crescimento acelerado no Brasil a partir de agora sem política fiscal contida e câmbio depreciado – este segundo fator como forma de estimular a indústria nacional. “A indústria deve ser o setor mais eficiente da economia, é aquele que está inserido no contexto global e que compete com as melhores empresas no exterior. Nós fizemos exatamente o contrário do que deveríamos ter feito: mantivemos o juro alto, desestimulamos o investimento - nossa taxa de investimento é a mais baixa entre os países emergentes – e apreciamos o câmbio, permitindo que as importações se tornassem muito baratas e destruíssem parte da nossa indústria”, explica. E prossegue: “Com uma indústria responsável por apenas 13% do PIB e o setor de serviços por mais de 60%, a economia não cresce”. Para Ary Oswaldo Mattos Filho, a mudança de rumo dos incentivos governamentais – do consumo para o investimento – deveria ter ocorrido ainda no governo Lula, “logo que se percebeu que o setor produtivo não estava produzindo bens suficientes para aquele grau de consumo”. “Aumento de consumo sem aumento de produção é receita de inflação”, sentencia Mattos Filho. Ninguém questiona a necessidade de se alavancar a indústria nacional – esse tema está fora do Fla x Flu econômico. Luiz Gonzaga Belluzzo não foge à regra mas, sob um dos aspectos envolvidos, a adoção de medidas protecionistas, tem posição que faz arrepiar os mercadistas. “No caso dos investimentos em infraestrutura e no pré-sal, a presidente Dilma está certa quando obriga que uma parte da demanda seja dirigida à indústria brasileira. É assim que acontece na maioria dos países. Foi assim na industrialização alemã, foi assim nos Estados Unidos, é assim na China – todo o programa chinês de infraestrutura respeita a uma obrigatoriedade de demanda para a indústria nacional. Aqui, o pessoal diz que é protecionismo – e tem de ser assim, pois o comércio mundial é feito de protecionismo e livre-mercado ao mesmo tempo”, provoca.


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