Infarto precoce: mais complexo e perigoso*

Em pessoas de meia idade ou mais jovens, o infarto do miocárdio mata mais do que em idosos

Por Paulo Henrique Arantes

Em 19 novembro 2010


 

O infarto em pessoas de meia idade ou mais jovens mata mais do que em idosos. Tal fato é comprovado e a explicação é simples: a aterosclerose, acúmulo de placas de gordura (ateromas) na parede das artérias, é tanto mais prejudicial quanto mais jovem for o indivíduo, pois este ainda não desenvolveu a chamada circulação colateral, mecanismo de defesa que o organismo cria ao longo do tempo contra os ateromas. Trata-se de pequenos vasos sanguíneos que crescem ao redor dos grandes, formando canais de escoamento. Nos jovens, esses caminhos alternativos ainda não existem, portanto os infartos lhes são mais graves.

 

“Nas pessoas com menos de 40 anos os casos de infarto por aterosclerose são mais complexos”, afirma o cardiologista Abrão José Cury Júnior, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Além de maior risco de morte por infarto do miocárdio, os jovens que sofrem de aterosclerose estão sujeitos a verem comprometida sua qualidade de vida e mesmo de terem reduzida sua expectativa de vida”, observa.

 

Uma pesquisa realizada no fim dos anos 90 no âmbito do Hospital do Coração, da Associação do Sanatório Sírio de São Paulo, concluiu que a frequência de infartos entre brasileiros com menos de 55 anos era 40% maior que a média do resto do mundo. Na mesma época, um estudo junto a pacientes do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, também de São Paulo, demonstrou que 88% dos infartados com menos de 40 anos eram fumantes que consumiam mais de um maço de cigarros por dia. Alia-se ao cigarro como causa de infarto uma série de fatores.

 

“A doença aterosclerótica deve-se a diversos motivos: herança familiar, tabagismo, estresse, hipertensão, diabetes, obsesidade e colesterol elevado - a dislipidemia”, explica Cury. “As pessoas com casos anteriores na família de aterosclerose devem parmanecer desde cedo sob atenção médica”, alerta o especialista, que também é médico do Hospital do Coração. E adverte: “A aterosclerose começa antes dos 40 anos e, em alguns casos, ainda na infância”. Aos que descendem de indivíduos que sofrem de aterosclerose, mesmo que não infartados, Cury recomenda um detalhado exame cardiológico logo na primeira infância, outro na adolescência e, a partir dos 20 anos, acompanhamento médico regular, com minuciosas avaliações a cada dois anos, pelo menos. “É preciso rastrear os fatores hereditários de risco e ficar atento à pressão arterial, que é a principal causa imediata de infarto do miocárdio”, orienta.

 

Estresse e sono

 

Agravante de quase tudo, o estresse pode contribuir decisivamente para um infarto. “Todo mundo, inclusive os jovens, precisa de avaliações clínicas regulares, precisa de orientação sobre seu estilo de vida. No caso dos advogados, que vivem pressionados por prazos, é indispensável que mantenham uma atividade regular de lazer, um momento de relaxamento”, diz Abrão José Cury Júnior.

 

Para o bem do coração, as horas de sono devem ser mesmo sagradas. Crises de apneia são potenciais causadoras de infarto a indivíduos sob risco. Cury indica um exame chamado polissonografia a quem sofre de apneia, a partir do qual pode ser definido o tratamento adequado.

 

Esporte e risco

 

Em outubro de 2004 – quem não se lembra? – o zagueiro Serginho, do São Caetano, morreu de infarto durante uma partida, aos 30 anos. Atleta profissional, Serginho não sofria de aterosclerose, mas sim de um problema congênito, o espessamento do músculo cardíaco. Mesmo quem não sofre de espessamento cardíaco nem de aterosclerose deve submeter-se a rigorosa avaliação médica antes de iniciar alguma prática esportiva.

 

“Toda atividade física aeróbica deve ser precedida de uma avaliação física, inclusive no caso das crianças”, salienta Cury. “O exercício intenso pode desencadear um infarto nos indivíduos que tenham predisposição”.

 

Recentemente, pesquisadores da Universidade Laval, do Canadá, examinaram 20 corredores saudáveis antes e depois de uma maratona. Testes de esforço e de sangue e ressonância magnética revelaram alterações no bombeamento sanguíneo e na oxigenação cardíaca. Também foram constatadas microlesões e inchaço no coração. Três meses depois, os exames foram repetidos – as alterações haviam desaparecido. Os autores do estudo disseram que, mesmo que reversíveis, as mudanças associam-se a complicações cardiovasculares.

 

Investigação semelhante do Instituto Dante Pazzanese analisou alterações cardíacas em 70 maratonistas, e os resultados comprovaram modificações fisiológicas. Conforme declarou o cardiologista Nabil Ghorayeb, os riscos são maiores em pessoas com doenças cardiovasculares, “mas a ausência de fator de risco não quer dizer que a prática é permitida. Todos precisam fazer uma avaliação física antes de correr”.

 

 

SAIBA MAIS

 

 

- Aterosclerose é uma doença crônica que afeta a parede das artérias, provocando a formação de placas de gordura chamadas ateromas;

 

- As principais causas da aterosclerose são hipertensão arterial, dislipidemia, tabagismo, diabete, obseidade, sedentarismo, estresse e envelhecimento;

 

- O número de jovens infartados nos últimos anos tem aumentado. O uso frequente de drogas, principalmente a cocaína, é um dos fatores, segundo especialistas;

 

- Quem deixa de fumar reduz em 50%, em dois anos, o risco de infarto

 

 

*Reportagem publicada originalmente no Jornal do Advogado, edição de novembro de 2010


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