
de petróleo do mundo. Em uma população
de quase 60 milhões havia mais do que 300
etnias e idiomas diferentes, agrupados em
três divisões principais: ao norte, os Hausa,
muçulmanos semi-feudais governados por
emires que, por sua vez, eram dominados
por um sultão. Este mantinha a autoridade
religiosa e política absolutamente centralizada
em uma hierarquia rígida e submissa, e por
isso fácil de governar à distância. Era a porção
mais populosa da Nigéria, e a quem os
ingleses alocaram mais poder. Pelo mesmo
raciocínio, nessa região o Reino Unido não
dava acesso aos missionários e a viajantes
europeus, mantendo os Hausa isolados de
influências cosmopolitas e progressistas.
No sudoeste viviam predominantemente
os Yoruba, em uma monarquia mais flexível,
onde a população tinha razoável mobilidade
social baseada em conquista pelo trabalho ao
invés de herança e títulos. Aqui os missionários
ingleses puderam entrar e introduziram as
formas ocidentais de educação. Com isso, os
Yoruba foram os primeiros a adotar normas
sociais e burocráticas ocidentais e a formar
as classes de funcionários públicos, médicos,
advogados e outras profissões técnicas.
A etnia Igbo vivia principalmente no sudeste
do país. Constituía-se em comunidades
republicanas onde as decisões eram tomadas
em assembléias com a participação de homens
e mulheres. Como também receberam
missonários, eram predominantemente
protestantes, de alto poder aquisitivo e
modos europeus. Costumavam enviar seus
filhos e filhas à Inglaterra para a universidade
e viviam de modo bastante emancipado,
isolados dos Hausa.
Quando a Nigéria foi criada e os três grupos
forçados a interagir com mais intensidade,
afloraram os conflitos centenários, até
então pouco intensos, agora estimulados
pelos ingleses, que não tinham interesse em
uma população unida que os ameaçasse.
REVISTA DA CAASP 61
Inicialmente os Hausa queriam separar-se
do sul, mas quando isto revelou-se inviável,
em nome da independência da Inglaterra, os
Igbo e Yoruba concordaram que os Hausa
governariam o país.
Em 1960 foi declarada a independência.
Quando os colonizadores saíram, restaram
apenas os conflitos. Uma série de golpes
e contragolpes culminaram, em 1966, em
um massacre dos Igbo, cristãos do sudeste,
pelos Hausa, muçulmanos do norte. Foi
um pogrom ao estilo russo, onde foram
assassinados dezenas de milhares de Igbo.
Isso desencadeou um intenso sentimento
patriótico por Biafra entre os Igbo e levou à
declaração de independência em 1967. Essa
dedicação não permitiria qualquer rendição
ou humilhação e resultou, em 1970, em seu
genocídio. A arma de guerra foi a fome, agora
ao estilo stalinista. Assim como o líder soviético
matou de fome entre três e sete milhões de
ucranianos no inverno de 1932-33, os Hausa
causaram a morte de cerca de três milhões
de biafrenses, a maioria crianças, em apenas
três anos. Kwashiorkor, morte por inanição,
tornou-se palavra conhecida mundo afora
através das fotos das crianças cadavéricas de
expressão vazia.
Nem tudo foi silêncio: a Grã-Bretanha
naturalmente apoiou as forças nigerianas
dos Hausa para não perder o controle sobre
o petróleo; a União Soviética também, para
ganhar um território na África. Aleksei Kosigyn,
primeiro ministro, declarou, em 1967, que
“o povo soviético entende perfeitamente os
motivos da Nigéria (de atacar Biafra) para
impedir que o país seja desmembrado”.
De outra parte, houve demonstrações de
coragem: Tanzânia, Gabon, Costa do Marfim,
Haiti e Zambia reconheceram a independência
de Biafra. França e Israel enviaram tropas,
dinheiro e armas a Biafra. E em 1968 Richard
Nixon, candidato à Presidência dos Estados
Unidos, declarou que “até agora, os esforços
LITERATURA