
56 REVISTA DA CAASP
Chowdhury sabe usar o suspense para
relatar o caso da moça que ousou dizer “não”.
Minal (Taapsee Pannu) e mais duas amigas
bebiam e se divertiam com três moços numa
festa. Ao forçar a barra em busca de sexo com
Minal, Rajvir (Angad Bedi) é rechaçado com
uma garrafada na testa que quase lhe cega
um olho.
O espectador tem todas as pistas, mas só
fica sabendo detalhes do ocorrido quando o
caso chega à Justiça, na segunda metade da
fita – eis o suspense bem manuseado por
Chowdhury.
Sobrinho de um figurão da cidade, Rajvir
e os amigos exigem desculpas, ameaçam e
aterrorizam Minal e as amigas, que dividem
um apartamento. Minal presta queixa à
polícia, que não lhe dá a mínima. Rajvir faz o
mesmo alegando ser vítima de tentativa de
homicídio – e a polícia prende Minal.
Paira sobre o desenrolar do roteiro a figura
soturna de um velho, morador da mesma
rua em que vivem as moças. O velho parece
uma criatura onipresente, um espectro. Anda
vestindo uma pitoresca máscara antipoluição,
sim, o velho é certamente uma pessoa doente.
Toma muitos remédios, contempla o nada ao
mesmo tempo em que não perde as moças
de vista, como a lhes antever um destino
trágico. O velho testemunha o assédio a que
as jovens são submetidas impiedosamente.
Quando Minal está prestes a ser
completamente destruída pelas instituições
corrompidas, e pelo preconceito de uma
sociedade, é o velho quem sai em seu socorro.
Aquele senhor sorumbático e misterioso
(Amitah Bachchan) é ninguém menos que
Deepak Sehgal, grande advogado de causas
humanitárias, ora aposentado, mas que
vai voltar ao tribunal para defender Minal.
Mais do que isso: para retomar sua antiga,
e inglória, luta contra o machismo e outros
ismos da sociedade indiana.
Trafegando de uma irritante apatia – seriam
os remédios? – para uma combatividade de
gladiador, Sehgal vai aos poucos desmontando
a retórica estridentemente conservadora do
advogado de acusação. Sua ironia é cortante:
“Claro, nenhuma garota deve beber com um
rapaz, porque se ela beber o rapaz pensará
que ela não se importa em dormir com ele”.
Melhor ainda: “Não devemos proteger nossas
garotas, mas sim nossos garotos, que sempre
estão correndo o risco de ficarem tentados”.
Ao inquirir Rajvir, Sehgal arranca-lhe
pérolas do machismo que tanto conhecemos
por aqui, como “mulheres de boa família não
bebem”, e tesouros do patrimonialismo que
nos são tão comuns, como o surrado “você
não sabe com quem está falando”.
O falso moralismo, sempre de mãos dadas
com as piores espécies de preconceito,
é devidamente pulverizado por Sehgal:
“Rapazes bem vestidos e bem educados
CINEMA Reprodução