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como custo”, afirmou.
Desde então, começa a mudar uma
tendência que vinha desde os anos 30 no
Brasil, quando o Estado passou a ser mediador
e promotor de direitos. Com a chamada onda
do neoliberalismo, lembrou ela, perdeu força
o discurso por direitos e entrou em cena o
discurso com ênfase no funcionamento da
economia.
Os Estados começaram então a derrubar
barreiras para o comércio e promover outras
desregulamentações. Nas fábricas, adotou-se
o modelo de produção conhecido por just
in time, ou seja, no tempo certo, conectado à
demanda. Já não se falava mais em estoque,
que representava um grande risco para as
fábricas.
Just in time faz sentido quando se trata do
mundo das coisas, mas não quando se trata
de seres humanos. Mas foi exatamente o que
aconteceu: essa lógica foi transportada para
o mundo do trabalho, e a noção de direito
perdeu importância. Mais tarde, esse conceito
passou a ser conhecido como uberização.
Para melhor compreensão do fenômeno,
Ludmila recua na história e lembra que, no
tempo da produção por estoque, vigoravam
também os modelos de produção conhecidos
por taylorismo ou fordismo. Em ambos, o
sistema de produção ganhou protagonismo.
Quem assistiu ao filme “Tempos Modernos”,
de Charles Chaplin, pode entender melhor.
O operário é um cumpridor de tarefa,
como apertar um parafuso, sem se dar conta
do que está produzindo. É isso não importa
para o produto final. Para a produção, o mais
importante é que o trabalhador aperte o
parafuso no menor tempo possível.
Para que o sistema funcionasse
perfeitamente, o engenheiro Frederick
Winslow Taylor valorizava o trabalho do
gerente. O trabalhador era visto como um ser
indisciplinado que precisava de supervisão
direta. Esses “tempos modernos” ficaram
para trás.
“A ideia do taylorismo pressupõe uma
rebeldia do trabalhador. Era preciso
controlar, disciplinar esse trabalhador
permanentemente. O que a flexibilização do
trabalho constatou é que, se você jogar para
o trabalhador parte do gerenciamento para
ele próprio, ele é um excelente gerente de si
próprio. Você não precisa ficar controlando
se ele fez tanto naquele tempo. E se você
trabalhar na sua casa, mas trabalhar por
metas? Não controlo mais seu tempo de
trabalho. Controlo o que você me entrega.
Constatou-se que os trabalhadores trabalham
cada vez mais. Para o capital, a ausência da
mediação do trabalho não foi uma perda. Pelo
contrário. Num mundo permanentemente
ameaçado pelo desemprego, contatou-se
que as pessoas podem trabalhar até mais.
DIA A DIA Arquivo pessoal L.C.A.
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Ludmila Abílio, da Unicamp: movimento de
“uberização” começou nos anos 70.