
inibidores de apetite, que perdurava havia 11
anos pelo desejo de ser magra. Vanessa é uma
mulher gorda de 39 anos que não precisou
emagrecer para sentir-se bem. “Hoje sou
muito mais paciente, mais ativa mentalmente
e corporalmente. Sou uma pessoa melhor em
todos os sentidos”, diz.
Na transição de executiva para professora
de ioga, Vanessa percebeu que queria
promover a filosofia iogue e quebrar
preconceitos com toda a sua corporeidade.
“Queria agregar os ensinamentos da ioga
à vida de outras pessoas, proporcionando
a elas essa mudança interior que eu senti e
sinto até hoje, e mostrando que todos podem
praticá-la”, relata.
Há três anos ela criou o Yoga Para Todos,
um projeto que acabou virando escola e
que abre espaço para pessoas de todos
os biotipos aprenderem os ensinamentos
milenares. “A ioga é uma prática libertária,
autônoma e inclusiva, muito diferente deste
cenário limitador e até discriminador que
estamos acostumados a ver no Ocidente”,
reflete, ao comentar sobre o apogeu de musas
e “musos” fitness nas redes sociais – pessoas
cujos corpos esguios e delineados mobilizam
seguidores. “Por eu ser gorda, nas minhas
aulas tem muitas pessoas gordas, negras,
da comunidade LGBTQI+, com deficiência,
idosos, enfim, corpos que não se sentem
bem quistos em escolas tradicionais, mas
que também precisam de uma atividade que
traga equilíbrio”, explica.
A professora leva a democratização da
ioga tão a sério que realiza aulas gratuitas em
parques e centros culturais da cidade de São
Paulo.
MUITO ALÉM DA
ACADEMIA
REVISTA DA CAASP 41
O Brasil é o segundo maior mercado de
academias do mundo. Das 201 mil academias
espalhadas pelo globo, cerca de 33 mil
estão em solo verde e amarelo, nas médias
e grandes cidades, com mais de 8 milhões
de alunos matriculados, movimentando
aproximadamente 2,5 bilhões de dólares e
acelerando a demanda também de setores
afins, como a moda fitness.
Os números revelam um paradoxo.
Levantamento da Organização Mundial de
Saúde (OMS) divulgado no ano passado
constatou que 47% dos brasileiros não
praticam atividades físicas o suficiente,
colocando o Brasil, no contexto global, como
o país de mais ociosidade.
Para a professora do Departamento de
Pedagogia do Movimento do Corpo Humano
da Escola de Educação Física e Esporte
(EEFE) da USP, Yara Maria de Carvalho, é fácil
identificar o motivo dos dados divergirem
entre si. O ritmo industrial de proliferação
Yara, da USP, alerta: cuidado com as academias.
Karol Pinheiro
SAÚDE