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Revista da CAASP - Edição 05

O que o senhor achou da troca do secretário de Segurança e dos comandantes das Polícias Civil e Militar em São Paulo? Eu assisto a esse filme há mais de quatro décadas. Pessoalmente, em termos rigorosamente profissionais, lamento que a polícia não tenha status suficiente para ter seu próprio dirigente maior, que é o secretário de Estado. Eu não acredito em desembargador, juiz, promotor, advogado que entenda de segurança. Eu não acredito nisso! Tem que ser do ramo. Como, por uma série de razões, a polícia não adquiriu ainda essa confiança, então se improvisa alguém mediante um critério meramente político de escolha. O senhor fala especificamente do secretário de Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, ex-procurador-geral do Estado, nomeado pelo governador Geraldo Alckmin para substituir a Antônio Ferreira Pinto, um policial de carreira? Falo de maneira geral, mesmo porque as pessoas nem sempre têm boa memória. O grande jurista Hely Lopes Meirelles foi secretário de Segurança, e o esquadrão da morte nasceu e proliferou com ele. Alguém vai me dizer que ele não sabia de nada? Isso seria muito inocente. Este é apenas um exemplo entre tantos outros possíveis. O Ferreira Pinto era visto como duro, oriundo da Polícia Militar, mas eu o conheci antes, durante e depois de assumir o cargo de secretário. Ele chegou à Secretaria de Segurança numa situação muito difícil, inclusive moralmente – as pessoas se esquecem disso. Havia um secretário-adjunto que comandava um esquema de propina na pasta com uma audácia que nunca se viu, conforme foi apurado pelo Gaeco (Grupo de Ação Especial contra o Crime Organizado), órgão do Ministério Público. Para se ter uma ideia, ser diretor de polícia exigia o pagamento de uma taxa, ser delegado seccional de polícia idem, ser titular de Distrito Policial idem, ser chefe de investigadores idem. Tudo que eu estou falando está comprovado. Para tais acertos, esse secretário-adjunto, que se chamava Lauro Malheiros, criou um endereço eletrônico, pessoal, por meio do qual ele se comunicava com a seguinte senha: “canalhada.com”. O que aconteceu é que o secretário à época, que era um promotor, o Ronaldo Marzagão, ruiu, e o Ferreira Pinto assumiu nessas condições. E como ele deveria assumir? Inocentemente? Acreditando em anjinhos e querubins? Então o Ferreira Pinto endureceu, talvez tenha exagerado um pouco na dose, privilegiou a Polícia Militar, colocou em segundo plano a Polícia Civil, fomentaram-se atritos institucionais, e a coisa chegou a um ponto em que se tornou irreversível. Junho 2013 / Revista da CAASP // 17


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