Descuido com a saúde bucal pode comprometer o coração*

Bactérias “aproveitam” sangramentos, caem na corrente sanguínea e podem infeccionar válvulas cardíacas

Por Paulo Henrique Arantes

Em 25 fevereiro 2013


Dentes saudáveis não só contribuem para uma boa aparência como para a saúde em geral. Manter a boca saudável é uma necessidade de todos, mais ainda das pessoas com problemas cardíacos. A falta de higiene bucal pode acarretar uma perigosa infecção das válvulas do coração, que em alguns casos pode ser fatal. Endocardite infecciosa é o nome da doença, que pode ser causada por fungos, vírus e, mais frequentemente, por bactérias que entram na corrente sanguínea. Nesse último grupo destaca-se o Streptococcus viridans, que vive na boca de todos os seres humanos sem provocar qualquer dano, desde que não haja fissuras ou sangramento.

 

O Streptococus está sempre a esperar o momento oportuno para atacar. “É um conjunto de problemas que irá causar a endocardite infecciosa. Tudo começa na placa bacteriana, que provoca uma inflamação na gengiva, que por sua vez causará uma periodondite, que é a inflamação e infecção dos ligamentos e ossos que dão suporte aos dentes”, explica o cirurgião-dentista Ricardo Padovese, gerente odontológico da CAASP (Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo). As intervenções odontológicas mais invasivas, como cirurgias e extrações dentárias, também dão passagem para entrada de bactérias na corrente sanguínea.

 

Caso a bactéria encontre uma brecha de entrada na circulação, irá direto para o endocárdio, camada interna do coração, onde estão as válvulas cardíacas. Alojada nessa região, a bactéria provocará infecção das válvulas. “Apesar de se desenvolver de forma lenta, se o quadro não for tratado rapidamente a infecção pode evoluir e provocar alterações importantes no funcionamento das válvulas cardíacas, podendo chegar a sua completa destruição. Há a possibilidade também dessa bactéria escapar do endocárdio e ir para outras regiões do organismo”, salienta o cardiologista Valdir Ambrósio Moisés, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

 

O principal sinal sugestivo do início da infecção é febre prolongada. Somam-se a ela o surgimento de sopro no coração ou mudanças em um sopro já existente, além de manifestações na pele, nas unhas e nos olhos. Se o quadro se prolongar o indivíduo pode desenvolver anemia.

 

“Não existe um teste específico que detecte a endocardite, por essa razão o médico precisa ter todas as informações possíveis, analisá-las em conjunto, para depois dar o diagnóstico de endocardite”, esclarece Moisés. O diagnóstico de endocardite infecciosa é dado após descartar-se a possibilidade de outras doenças. Para fechar o quadro, solicitam-se hemograma, hemocultura e ecocardiograma.

 

O médico da Unifesp salienta que o tratamento da endocardite infecciosa é incômodo para os pacientes. “Nesse tipo de infecção, são ministrados antibióticos em altas doses, usualmente mais de um tipo, todos de forma intravenosa. Por causa da medicação e das possíveis complicações, o paciente deve permanecer internado”, relata. Normalmente, o tratamento dura de quatro a seis semanas, mas pode se estender se a doença estiver em estágio avançado. Caso o organismo não reaja à medicação, o procedimento seguinte é a cirurgia para remoção do tecido infeccionado e a troca da válvula comprometida por uma prótese.

 

PrevençãoNa área odontológica a prevenção da endocardite começa pela anamnese na primeira consulta, durante a qual deve ser apurada a condição geral de saúde da pessoa. Os dados levantados na anamnese são fundamentais, pois revelam se o paciente pode se submeter a cirurgia sem maiores riscos. “Se for o caso, o dentista ou o cardiologista deve indicar um antibiótico a ser ingerido antes do procedimento, para garantir maior proteção ao paciente”, destaca Ricardo Padovese. “O tratamento dentário deve sempre ser realizado em consultórios de assepsia comprovadamente rigorosa”, sublinha Valdir Ambrósio Moisés.

 

Há mais de 10 anos atendendo a advocacia na sede da CAASP, Padovese diz nunca ter encontrado um caso que resultasse em endocardite infecciosa. Para ele, a incidência zero de endocardite nos consultórios odontológicoa da Caixa de Assistência deve-se à prioridade que é dada no local aos procedimentos preventivos. “A prevenção profilática com antibióticos é bastante eficaz. Paralelamente, temos hoje um advogado consciente da importância da saúde bucal como fator de prevenção”, afirma.

 

Para uma boa saúde bucal

 

 

Escova - A escolha da escova é muito importante. É importante que ela tenha de cerdas retas e macias, e que seja trocada a cada três meses de uso;

 

Creme dental - A escolha do creme dental varia de uma pessoa para outra. Na dúvida, o paciente deve consultar o dentista. A recomendação geral é utilizar nas escovações pequenas quantidades de pasta (nas dimensões de uma ervilha);

 

Fio dental – Trata-se de um recurso indispensável para a limpeza das regiões entre os dentes, onde a escova não alcança. É importante que o fio o a fita dental seja passado entre todos os espaços entre os dentes, tanto os superiores quanto os inferiores;

 

Enxaguante bucal - O enxaguante bucal auxilia no controle bacteriano da saliva e também na aplicação do flúor.

 

 

*Reportagem publicada originalmente no Jornal do Advogado, edição de fevereiro de 2013


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