e a Fundação Joaquim Nabuco, contam
com acervos de folhetos de cordel ... que
datam dos primeiros anos do século 20”.
Se nos ativéssemos a uma limitada e
estereotipada visão do cordel, poderíamos
pensar que esse gênero de literatura tem
apenas como tema assuntos do sertão
nordestino, sua cultura e história, tais como
as histórias de Lampião e do Cangaço; que,
aliás, durante certo período foram temas
proeminentes.
Porém aprendemos com os autores do
citado ensaio que houve na origem um
“laço histórico entre a literatura europeia
medieval, os trovadores e, finalmente,
os cordéis portugueses com os folhetos
produzidos no Brasil”.
Daí resultou uma extraordinária riqueza
temática nas histórias que retratam “épicos
fantásticos, grandes aventuras de cavalaria,
narrativas de amor ou de profunda tristeza,
fábulas com a presença de animais falantes
como personagens, a oposição do divino e
LITERATURA 62 REVISTA DA CAASP o diabo, bem como crônicas de anti-heróis
malandros, a sátira política e grandes
relatos de época, grandes novelas de
cavalaria francesa em cordel, contos de “As
mil e uma noites”, passagens da mitologia
grega...”
Havia, também, os poetas repórteres,
que publicaram em cordel as grandes
notícias de cada época. Novamente citando
Gonçalo Ferreira da Silva, em entrevista ao
Nexo Jornal:
“A contribuição mais importante do
cordel foi como jornal. Ele era o veículo da
maior confiança do nordestino. Veja, por
ocasião da morte de Getúlio, as pessoas
se aglutinavam nas estações aguardando a
notícia da capital vinda do jornal. Mas tinha
quem só acreditava se viesse a notícia em
cordel”.
Ele mesmo, autor de inumeráveis
cordéis, publicou importantes livretos
como poeta jornalista, de que cito alguns
célebres, cuja importância já se constata
Drummond, Rosa e Bandeira souberam enxergar o valor da literatura de cordel.