sílabas poéticas) é de uso na poética de
grandes poetas compositores brasileiros
nada incultos – digo assim porque por vezes
segue prevalecendo o preconceito sobre a
incultura dos poetas de cordel –, vejamos a
primeira estrofe da música Paratodos, de
Chico Buarque de Hollanda:
O/ meu/ pai/ e/ra/ pau/lis/ta
Meu/ a/vô/ per/nam/bu/ca/no
O/ meu/ bi/sa/vô/ mi/nei/ro
Meu/ ta/ta/ra/vô/ bai/a/no
Meu/ ma/es/tro/ so/be/ra/no
Foi/ An/to/nio/ bra/si/lei/ro
Ao leitor que encontrou oito sílabas
nos versos de cada um dos exemplos
acima, em vez de sete, vale lembrar que
a contagem das sílabas poéticas vai até a
última sílaba tônica do verso; as demais
não se consideram.
Voltando ao magnífico “Pavão
Misterioso”, trata-se de um cordel gênero
romance, com 141 estrofes com seis
versos de sete sílabas poéticas (redondilha
maior), de autoria de José Camelo de Melo
Resende e publicado em 1923. A história
toma inspiração às “1001 Noites” e narra
a paixão de um viajante, Evangelista, por
Creuza, uma jovem e bela condessa que
era mantida em cativeiro por seu pai, o
conde.
O pavão misterioso, que dá nome ao
romance, era a máquina voadora, inventada
pelo engenheiro Edmundo, a contrato de
Evangelista, para que ele pudesse raptar
Creuza libertando-a do cativeiro em que a
mantinha o pai.
Trata-se não apenas de uma história de
amor e de aventuras, porém igualmente
de ficção científica; eis que o pavão voa
LITERATURA 60 REVISTA DA CAASP Chico Buarque: redondilhas em “Paratodos”, como nas poesias como se fora um helicóptero, levantando
e pousando na vertical, além de possuir
outras características mecânicas ainda não
inventadas em 1923.
O romance “O Pavão Misterioso” para
além de um clássico da literatura de cordel
pode hoje ser considerado um dos grandes
poemas da literatura brasileira de qualquer
gênero. Foi esse cordel de 1923 que
inspirou a composição, em 1974, da música
de mesmo nome, de autoria do cearense
Ednardo, que, na voz de Ney Matogrosso,
tornou-se inesquecível para nossa música
popular, com dezenas de regravações por
outros intérpretes, no país e no exterior.
No início da canção nada indicaria
tratar-se do mesmo tema, salvo o nome
da canção, porém nos últimos versos a
referência é explícita:
Pássaro formoso
Um conde raivoso
Não tarda a chegar