O poeta Gonçalo Ferreira da Silva.
nordestinos. Quando ouvidos ao vivo, a
musicalidade dos instrumentos, em geral a
viola ou o pandeiro, acentuam o ritmo dos
versos reforçando a memorização.
Por serem poetas populares, costuma-se
supor que os cantadores ou autores
da literatura de cordel desconheçam, ou
não obedeçam, às regras poéticas. Não é
o caso. Sobre este assunto e outros, valho-me
neste artigo, afora outras fontes, da
cuidadosa análise de Murilo Roncolato,
Guilherme Falcão, Ariel Tonglet e Ricardo
Monteiro em seu ensaio “Os versos e traços
da literatura de cordel” (nexojornal.com.br
de maio de 2017). Dizem eles:
“No cordel, a métrica mais popular é a
sextilha, composta de seis versos de sete
sílabas. É comum ainda se ver septilhas
(sete versos de sete sílabas), décimas (dez
versos de sete sílabas), além de “martelo
agalopado” (dez versos de dez sílabas)
e “galope à beira mar” (dez versos de 11
sílabas).
O poeta Gonçalo Ferreira da Silva, autor
REVISTA DA CAASP 59
de incontáveis folhetos de cordel, fundador
e ex-presidente da Academia Brasileira de
Literatura de Cordel, citado no mesmo
ensaio, vai além:
“A literatura de cordel utiliza todas as
modalidades presentes nos chamados
clássicos. Desde a redondilha menor cinco
sílabas – usado por Camões – até o Grande
Alexandrino 12 sílabas”.
Para exemplificar a métrica do cordel,
os autores do citado ensaio apresentam
e decompõem o trecho inicial de “Pavão
Misterioso”, cordel em sextilhas, tendo
estrofes de seis versos, com versos de
sete sílabas poéticas, rimando entre si o
segundo, o quarto e o sexto versos.
Eu vou contar uma história
De um pavão misterioso
Que levantou vôo na Grécia
Com um rapaz corajoso
Raptando uma condessa
Filha de um conde orgulhoso
Decomposta a estrofe para ilustrar a
métrica, assim são os versos e as sílabas
poéticas:
Eu /vou/ con/tar/ u/ma his/tó/ria
De um /pa/vão/ mis/te/ri/o/so
Que /le/van/tou/ vôo/ na/ Gré/cia
Com /um /ra/paz/ co/ra/jo/so
Rap/tan/do/ u/ma /con/des/sa
Fi/lha/ de um/ con/de or/gu/lho/so
A ilustrar como a clássica redondilha
maior (estrofes de seis versos de sete
LITERATURA