mundo”, diz. Dividindo-se entre o trabalho
como bancária, os estudos e a família,
conseguiu formar-se em Direito em 1975
pela Universidade de Guarulhos. Contudo,
entrar para a advocacia não foi tarefa
fácil, lembra a advogada de 68 anos, hoje
assistida da CAASP. “Tive de lutar muito
para ganhar meu espaço”, conta.
Depois de ingressar na Ordem
dos Advogados do Brasil, Maria José
abandonou o emprego no banco. Começou
na advocacia atuando em escritórios de
colegas, o que não foi uma experiência
muito gratificante. “O que eu fazia nesses
escritórios não era advogar”, recorda. Fazer
serviços burocráticos não a satisfazia.
Deslanchou na profissão quando foi
trabalhar com o colega Cláudio Maida,
de quem se tornou sócia anos depois.
“Ali tive grande ascensão”, afirma. As
lembranças desse tempo estão vivas em
sua memória e são narradas com euforia.
“Não é que eu esteja me vangloriando, mas
eu me entusiasmo. É como escreveu Pablo
Neruda: ‘confesso que vivi’”.
Em 1992, a sociedade com Maida foi
desfeita, em virtude da morte dele. “Foi
então que começou a minha via-crúcis”,
pontua Maria José. “Pulei de galho em galho
dali em diante”. Depois de experiências
com outros colegas falharem, montou seu
próprio escritório, em casa. Ela, que até
então só trabalhara com a área cível, passou
a atender tudo o que aparecia – trabalhista,
tributário, consumidor, criminal etc.
Em nenhum momento Maria José deixou
de trabalhar, mas em 2010 foi obrigada a
diminuir o ritmo para cuidar da mãe, Irene,
vítima da doença de Alzheimer. “Cuidar de
minha mãe me fez ficar presa em casa”,
lastima. A mãe morreu em 2013, aos 85
anos. Quando Maria José voltou seus
olhos para a carreira, viu que sua clientela
desaparecera.
REVISTA DA CAASP 49
Nos últimos anos, a atividade laboral
foi deixada ainda mais de lado em razão
de intensas e constantes dores na coluna
cervical e nas articulações, o que prejudicou
sua locomoção e produtividade. Hoje ela
acompanha o andamento de dois únicos
processos, antigos, e não vislumbra uma
resolução para eles nos próximos meses.
“Não consigo ficar 30 minutos em frente ao
computador que as costas já me doem”, diz,
mostrando o laudo médico: osteoartrose,
escoliose, artralgia (dor nas articulações),
cervicobraquialgia aguda (dor na região
cervical que se irradia para o braço).
Maria José mora sozinha, numa casa
simples na Zona Leste paulistana. Seu
único companheiro é Jorginho, um vira-lata
resgatado que faz festa para cada visita
que aparece. A única renda da advogada
vem da aposentadoria do INSS (Instituto
Nacional de Seguridade Social), que não é
suficiente para pagar as contas. Os irmãos,
Odair e Célia, não têm condições de ajudá-la
significativamente. Por isso, o papel da
CAASP na vida dela é vital. Em 2016, ela
procurou o setor de Benefícios da entidade,
recebeu a visita de uma assistente social e
obteve a concessão de auxílio mensal, em
dinheiro, e cartão-alimentação. Os recursos
da Caixa de Assistência cobrem boa parte
de suas despesas “Recebi da CAASP uma
atenção inigualável”, reconhece.
Apesar das limitações que a saúde lhe
impõe, a advogada anseia voltar a trabalhar
em breve. Dentro de alguns dias, contou,
dará início a um curso sobre conciliação
e mediação. “É que eu sou apaixonada
pela advocacia. Você sabe o que é isso?”,
pergunta.|
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