ano, os crimes de estupro aumentaram
38,07% no Estado de São Paulo, vale
ressaltar.
A professora Luana Silva, de 36 anos,
recentemente foi diagnosticada com
TEPT. Por um ano e meio ela viveu um
relacionamento em que sofria agressões
físicas e verbais. “Eram chutes, socos; uma
vez ele chegou a prender meu dedo no
portão, o que provocou um esmagamento
muscular. Em um acesso de fúria, rasgou
minhas roupas, quebrou meu celular, além
das mensagens agressivas, das palavras de
baixo calão e das ameaças”, conta.
No TEPT, os sintomas são semelhantes
aos do pânico, mas associam-se a eles
outros como hipervigilância, distúrbios
do sono e do humor, além de flashbacks
(revivenciar o trauma como se estivesse
acontecendo de novo).
Segundo a psiquiatra da Unifesp,
independentemente do gatilho, o
sofrimento afeta as interações sociais, a
capacidade de trabalho e outras áreas
importantes da vida. “Suponhamos que a
pessoa foi assaltada num ponto de ônibus.
Ela não consegue mais ir àquele lugar. Às
vezes, nem mesmo andar de ônibus. Além
disso, passa a apresentar dificuldade em se
relacionar e confiar nas pessoas”, descreve.
Foi exatamente o que aconteceu com
Luana. “Me afastei da vida social. Tenho
medo e desinteresse pelas pessoas,
principalmente pelos homens. Tenho
medo de andar sozinha pelo bairro,
até porque ele (o ex-namorado) vive
próximo”, conta. A experiência violenta
causou-lhe ainda quadros frequentes
de insônia. Quando conseguia dormir,
pesadelos a atormentavam. Durante o dia,
as lembranças das agressões vinham à
memória.
Qualquer pessoa que passe por uma
REVISTA DA CAASP 37
SAÚDE
experiência violenta pode apresentar
medo, raiva, insônia, desamparo – trata-se
de respostas naturais a tais casos. Contudo,
Andrea Mello, da Unifesp: “50% das vítimas de
estupro desenvolvem TEPT”.
após cerca de 30 dias, à medida que a vida
segue esses sintomas devem cessar. Caso
persistam, podem indicar um caso de TEPT
e um médico deve ser consultado.
Apesar de se manifestar nos primeiros
três meses depois do trauma, pode haver
um atraso de meses, até anos, até que o
diagnóstico de TEPT seja concluído. As
opções de tratamento são terapia, indicação
de medicamentos antidepressivos e até
antipsicóticos em doses baixas. “O que não
se deve fazer – e que muitas vezes se faz - é
usar medicamentos sem prescrição médica,
como Rivotril, Jazepam e outros. Essas
substâncias, quando mal administradas,
pioram o quadro e ajudam a fixar a
memória traumática”, alerta Andrea Feijó
de Mello. Em três meses de tratamaento, o
paciente já apresenta melhora significativa.
Mas, assim como no pânico, para uma
recuperação completa são necessários 12
meses de acompanhamento.|
Bianca Benfatti