Era o ano de 2014. Todo dia um medo
34 REVISTA DA CAASP avassalador tomava a advogada Dina
Alves, na época com 37 anos. “Tinha
medo das pessoas na rua, dos vizinhos,
da polícia”, recorda. O desespero vinha
acompanhado de manifestações
físicas imprevisíveis: suor excessivo
nas mãos, coração acelerado – “pronto
para saltar da boca” -, pernas bambas.
À noite, durante o sono, tampouco
a inquietação ia embora: “Tinha os
mais diversos pesadelos com a minha
morte”.
A advogada sofria de transtorno do
pânico, uma patologia que causa até
13 sintomas físicos e cognitivos. Pouco
se sabe sobre as causas específicas
desse mal, já que as preocupações
que podem desencadear os ataques
variam de uma cultura para outra e
entre as diferentes faixas etárias e os
gêneros. “No pânico, não há um evento
que justifique o desespero. Um período
de estresse e tensão na vida pessoal
ou profissional pode ser suficiente para
desencadear a doença”, explica Andrea
Feijó de Mello, psiquiatra da Unifesp. Um
ataque de pânico dura alguns minutos, em
média menos de 30.
O uso de drogas como anfetaminas,
corticoides, maconha, cocaína e ecstasy
podem desencadear episódios de pânico.
Existe ainda a suspeita de hereditariedade
do quadro.
Dina contou à Revista da CAASP que,
quando os sintomas começaram, ela
passava por fortes pressões sociais,
que envolviam a família e o trabalho.
Ela trabalhava em um escritório
especializado em Direito Trabalhista, em
Santos, e também atuava na Assistência
Judiciária. “No escritório, a demanda de
trabalho era enorme, e tive de abdicar do
trabalho na Assistência Judiciária, que me
Dina, ontem: “Eu tinha medo das pessoas na rua”.
complementava a renda. No fim de 2012,
deixei o escritório e parti para São Paulo.
Enquanto estive no litoral, sofri o estigma
de ser a nordestina (ela nasceu no interior
da Bahia, no munícipio de Ipiaú), mão de
obra barata. Na faculdade, era a negra
bolsista”, desabafa.
O pânico raramente ocorre sem
associação com outra psicopatologia, como
o transtorno de ansiedade. A ansiedade,
registre-se, é um estado emocional natural,
na grande maioria das vezes saudável e
indispensável à vida. Mas para a vítima de
pânico é extremamente nociva.
“Na grande maioria das vezes a
pessoa tem consciência de que a reação
é demasiada, mas simplesmente não
consegue controlar e isso afeta seu
cotidiano”, pontua Andrea Feijó de Mello.
O medo incontrolável fez Dina trancar –
se em casa. “Mesmo ali eu imaginava que
SAÚDE
Cristóvão Bernardo