Nunca se produziu tanta notícia,
ESPECIAL 22 REVISTA DA CAASP nunca se opinou tanto sobre tudo e
todos. A internet possibilita autonomia
opinativa, abre espaços de mercado,
cria nichos de leitores. Deixando de
lado sites e blogs de pessoas pouco
comprometidas com a verdade factual
e com a qualidade textual, viceja
no ambiente digital um jornalismo
dito independente, mas o conceito
de independência em comunicação
social precisa ser relativizado. Por ser
intelectualmente vazia, a ausência de
ideologia não é tão positiva quanto
querem fazer crer alguns, basta verificar
que os melhores jornais do mundo
assumem seu posicionamento no
espectro convencional esquerda / direita
– assim o fazem o francês Le Monde,
o espanhol El País, os americanos The
New York Times e The Washington
Post, que declaram o candidato de sua
preferência a cada eleição presidencial,
o britânico The Guardian e outros. O
que todos têm em comum é que não
deixam o noticiário contaminar-se
pelas preferências da casa, delimitando
com clareza os espaços noticiosos e os
editoriais.
De qual independência falamos,
então, quando tratamos de jornalismo
na internet? Ser independente significa
não estar a serviço, primeiro, de partidos
políticos ou governos, e, segundo, não estar
amarrado a conglomerados empresariais
cujos interesses econômicos sobrepõem-se
à razão de ser do jornalismo, qual seja
apurar e publicar a verdade, zelando pelo
bem público. No caso brasileiro, significa
estar acima do Fla x Flu político que toma
conta da Nação.
“Sem independência não há como ser
veraz”, afirma o jornalista Manuel Carlos
Chaparro, professor aposentado de
Jornalismo da Escola de Comunicações e
Artes da USP, autor de vasta obra sobre o
tema. “Do ponto de vista conceitual, quem
tem que ser independente é o jornalismo,
não o jornal”, acrescenta. Segundo
Chaparro, independência e ética não se
separam: “A ética é a razão de ser das ações
e das escolhas jornalísticas. É por isso que
o jornalismo é importante sob o ponto de
vista dos conflitos – o jornalismo é o espaço
público mais importante nos conflitos,
como era a praça pública antigamente”.
Deixar a veracidade em segundo plano
não é simplesmente mentir para o leitor.
Há outras formas de fazê-lo. O uso de um
sensacionalismo exagerado é uma delas.
“Não se deve usar as seduções da linguagem
WEB
Chaparro: “O jornalismo é que precisa ser independente ,
não o jornal”.