16 REVISTA DA CAASP trabalho escravo. Já temos iniciada uma parceria com a Secretaria da Educação para ensinar
português – os professores da rede municipal vão ensinar português para imigrantes. Os
professores da rede pública é que vão dar essas aulas.
Quando era secretária estadual da Justiça, a senhora enfrentou um problema com haitianos
vindos do Acre. Poderia relatar o que aconteceu?
O que aconteceu foi que o governador do Acre, Tião Viana, estabeleceu que a política pública
em relação a imigrantes - e isto estava documentado na página da Secretaria da Justiça do Acre
- era colocar os imigrantes num ônibus e mandar para São Paulo. Só que ele não nos avisou
disso, e nós descobrimos isso porque fomos chamados pela Missão Paz, uma entidade que
recepciona imigrantes em São Paulo, que fica na Baixada do Glicério.
Num determinado dia eu recebo um telefonema do Padre Paolo (diretor da entidade) para me
colocar a par da situação, me informando que os haitianos estavam chegando na rodoviária,
em estado precário de saúde depois de viajarem três mil quilômetros, sem dinheiro, sem
alimentação, sem local para ficar aqui em São Paulo, sem ninguém para os orientar e sem falar
português. Eu não estava sabendo de nada. Entramos em contato com o secretário da área no
Acre, e ele disse que ia continuar sendo assim mesmo.
No espaço de menos de um mês chagaram mais de 500 imigrantes. Nós tivemos que armar
uma operação para recepcioná-los na própria Missão Paz. Eu fiquei muito tocada com
a solidariedade dos moradores de São Paulo. Eu própria me instalei na Missão Paz para
organizar um mutirão para receber alimentos e roupas – a solidariedade do povo paulista foi
impressionante. O governador do Acre não gostou de eu ter exposto a situação e houve uma
troca de farpas. Ele até me processou.
E como terminou o processo?
A queixa-crime nem foi recebida aqui em
São Paulo.
São Paulo é uma cidade em que, quando
chove às cinco da tarde, o trabalhador
não consegue voltar para casa. Transporte
não é também uma questão de direitos
humanos? Como seria um transporte
público humanizado?
A Secretaria de Direitos Humanos se envolve
nas questões de transporte na medida
em que participa dos conselhos. Nós
participamos da maioria dos conselhos. Eu
acho fundamental uma ampliação das linhas
de ônibus e uma melhor estruturação dessas
linhas. É claro que isso faz parte de um
programa maior, do Governo do Estado, que
é a ampliação do transporte subterrâneo. As
grandes cidades do mundo que resolveram
seu problema de transporte o fizeram com
ELOÍSA ARRUDA | ENTREVISTA O QUE O PREFEITO
JOÃO DORIA ESTÁ
FAZENDO É CHAMAR
AS PESSOAS A
PARTICIPAR DA
VIDA DA CIDADE