Agora, na medida em que nós nos aproximamos dos
10 REVISTA DA CAASP traficantes, é claro que os dependentes químicos
estarão naquele contexto. Se nós não pudermos
fazer essa intervenção - e quando eu falo em nós eu
falo em termos de Estado, Guarda Municipal, Polícia
Militar e Polícia Civil -, se não pudermos fazer a ação
em relação aos traficantes, então teremos de deixar
tudo como está.
Qual sua opinião sobre internações compulsórias
de dependentes químicos?
É uma prescrição legal. Eu acho que há situações
extremas, em que a pessoa está em risco de vida,
em que a internação compulsória pode acontecer. É
claro que isso é um processo, não é uma política. A
nossa tentativa é sempre no sentido de convencer a
pessoa à internação voluntária, por isso nós temos
só naquele pedacinho, naquele território que se
chamou de Cracolândia, mais de 300 profissionais
da assistência social que fazem a abordagem aos
dependentes químicos, e outros tantos na área
da saúde. Então, é uma tarefa de convencimento.
Quando nós criamos o “Atende”, também foi com
assistente social, com psicólogo, para tentar o
convencimento voluntário.
Eu vou dar um exemplo que eu presenciei quando
era secretária da Justiça, quando montamos o Cratod.
Chegou a nós a notícia, por uma outra dependente química, que uma mulher em adiantado
estado de gestação, na Cracolândia, se recusava a buscar atendimento médico - e ela estava
para dar à luz. O que houve? Uma determinação judicial para que ela fosse internada
compulsoriamente - aí nós estamos falando de um caso típico de internação compulsória:
uma mulher, em risco de vida porque ela podia dar à luz ali, no meio do lixo, e também o
risco de vida do bebê que estava para nascer. A decisão foi dada, ela foi internada, deu à luz,
e a criança já nasceu com síndrome de abstinência. Olhe o drama humano envolvido nessa
situação! Então, é assim: a porcentagem de internação compulsória é ínfima, e só vale se
houver realmente risco de vida para a pessoa em situação de dependência química. A pessoa
em surto psicótico, por exemplo, que está atravessando a via pública, já perdeu totalmente
a noção de que pode morrer... então, são situações extremas. De qualquer modo, no que
nós acreditamos? Que o melhor caminho é a internação voluntária, a pessoa aderir a um
tratamento.
A Prefeitura pretende acabar com favela do Moinho, pelo fato de as drogas para a Cracolândia
saírem de lá. O que vai acontecer com os milhares de não-traficantes, trabalhadores, que
vivem lá?
A intenção da Prefeitura, quando fala em reocupar o espaço da favela do Moinho, é uma
ELOÍSA ARRUDA | ENTREVISTA