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Revista da CAASP - Edição n° 28

O filme não é, e está longe de ser, “o melhor drama de tribunal de todos os tempos” como apregoou a Paramont Pictures na capa de lançamento de “A Qualquer Preço” em DVD. No entanto, é excelente para o debate porque reflexões, na forma de aforismos, são explicitamente apresentadas ao longo da narrativa, umas tantas pelo advogado protagonista Jan Schlichtmann (John Travolta) e outras por Jerome Facher (Robert Duvall), o mais interessante de seus antagonistas. Por sua extraordinária atuação, Duvall foi indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante. O diretor Steven Zaillian, que também assina o roteiro, lança mão de dois artifícios para que os personagens verbalizem tais reflexões: Jan Schlichtmann é o narrador da história e Jerome Facher é professor em Harvard. Da narração do primeiro e de flashes das aulas do segundo colhem-se pérolas como as seguintes: 1. O advogado que sofre a dor do cliente ajuda tanto o cliente quanto um médico que tem medo de sangue. 2. O pior defeito que um advogado pode ter é o orgulho. Orgulho já fez perder mais causas que testemunhas idiotas e juízes radicais. Num tribunal simplesmente não há lugar para qualquer orgulho. 3. Processos judiciais são guerras, nada além disto. E começam do mesmo modo que elas – com uma declaração de guerra, a petição inicial. 4. O objetivo das ações civis é o acordo, e para chegar-se a um acordo é preciso forçar a outra parte a negociar. Para isto você é levado a gastar mais do que pode e a parte contrária também. A primeira parte que tomar consciência disto, perde. 5. A não ser que o advogado saiba exatamente qual será a resposta, jamais deve perguntar a uma testemunha “por quê?”. 6. Não é num tribunal que se vai achar a verdade ou algo minimamente parecido com ela. Se você procura a verdade, procure-a onde ela está: no fundo de um poço sem fundo. 7. Ao apelar de uma decisão judicial, saiba que os recursos são ainda mais bizantinos que as sentenças... Outras assertivas poderiam ser citadas. Todas fazem sentido no corpo do filme porque, afinal, sintetizam “lições” que são ilustradas pela própria trama. Se tais conclusões realmente são corretas e passíveis de generalização – é objeto para o debate. Esta, aliás, é a contribuição singular deste filme, uma vez que a necessidade de explicitar no próprio filme aquilo que ele retrata não é praxe e nem sempre recomendável, eis que numa grande obra de arte é desnecessário... Voltando ao conteúdo, identificamos na obra não apenas o debate de questões jurídicas, de prática processual e relacionadas à postura dos advogados face a seus clientes, a outros advogados, sejam sócios sejam adversários, porém igualmente questões filosóficas e dilemas psicológicos. 46 REVISTA DA CAASP CINEMA WEB


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