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Revista da CAASP - Edição n° 28

talvez algumas das motivações que levaram as pessoas às ruas não existam mais. E quais seriam essas motivações? Existem certas respostas que a gente deve deixar para o leitor elaborar. “Nós amamos o que desejamos”, diz você em uma de suas palestras. Numa sociedade cada vez mais consumista, essa afirmação não banaliza o conceito de amor? As pessoas estão amando iPhones, por exemplo? Você aí se refere a uma definição possível de amor, que é a de Platão, muito conhecida. Então, de fato Platão nos ensina que amor e desejo são a mesma coisa, e portanto se há desejo há também amor. Se é pelo iPhone, é pelo iPhone. É claro que talvez possamos pensar em amores e desejos mais relevantes para uma vida boa. Nesse caso, quanto mais desejarmos a verdade, a justiça, a harmonia, a cidade justa, enfim, quanto mais desejarmos coisas diferentes de um iPhone, talvez estejamos desejando e amando de maneira mais adequada para vivermos uma vida mais digna da nossa humanidade. Em outras palavras, certos desejos e certos amores nos apequenam ao tamanho de um telefone, nos apequenam ao tamanho de um artefato, nos apequenam ao tamanho de um veículo automotor. Por outro lado, certos desejos e certos amores nos agigantam. O desejo e o amor pela sabedoria nos agigantam. É correto dizer que esse amor apequenado está se disseminando? Ele está inscrito numa lógica de funcionamento social em que a inovação da oferta e o despertar ininterrupto de novos desejos são motores de um consumo que não tem fim, movendo assim uma certa economia, regulamentando uma certa cadência de circulação de bens na sociedade. Frase de sua autoria: “a felicidade está naqueles momentos que não queremos que acabem”. Como não existem momentos intermináveis, deduz-se que a felicidade é volátil, certo? Veja, uma coisa é os momentos acabarem, afinal de contas eles fazem parte da vida e tudo na vida é REVISTA DA CAASP 13 CERTOS DESEJOS E CERTOS AMORES NOS APEQUENAM AO TAMANHO DE UM ENTREVISTA | CLÓVIS DE BARROS DE FILHO IPHONE


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