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Revista da CAASP - Edição 27---

48 REVISTA DA CAASP 13 de Maio, a Abolição, que acarretou profundas transformações sociais e econômicas, levando famílias como a sua à pobreza. Com simplicidade, Cora Coralina dedica-se a todos os temas de sua memória e de sua terra. De seu baú surgem histórias de antigamente, que uma mulher forte conta com lirismo, bom humor e sabedoria. As fotografias e as entrevistas em vídeo que temos dela mostram uma mulher de bastante idade. Mas jamais a vejo como velha. Projetando o sentido de seus escritos à sua pessoa, e ao tempo em que era menina, e moça, de onde colheu sua maior inspiração, vejo-a antes como uma anciã sábia que nunca abriu mão de sua autenticidade e de sua visão arguta do mundo. Em Estórias da Casa Velha da Ponte, livro de contos publicado postumamente, em que a escritora descreve o casarão em que nasceu, e onde hoje existe um museu em sua homenagem, Cora Coralina usa a palavra “ancianidade” logo de início, desta forma: CASA VELHA DA PONTE ... Olho e vejo tua ancianidade vigorosa e sã. Revejo teu corpo patinado pelo tempo, marcado das escaras da velhice. Desde quando ficaste assim? Eu era menina e você já era a mesma, de paredes toscas, de beiradão desusado e feio, onde em dias de chuva se encolhiam as cabras soltas da cidade. Portais imensos para suas paredes rudes de barrotins e enchimento em lances sobrepostos salientes. LITERATURA


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