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Revista da CAASP - Edição 27---

24 REVISTA DA CAASP Outro problema que atrapalha o setor de transplantes no Brasil é a qualidade dos hospitais. Em geral, os grandes hospitais públicos têm um corpo técnico de alto nível, principalmente porque ligados a universidades, mas para o aproveitamento de órgãos é necessário um cuidado especial com o corpo de quem teve morte cerebral. Isso, às vezes, significa manter o corpo já sem vida efetiva por horas na UTI, até que todos os procedimentos legais e técnicos sejam realizados para a liberação dos órgãos, inclusive com cirurgia para a retirada de coração, pulmão, rim, fígado, córnea e outros órgãos. Se o hospital brasileiro não consegue cuidar direito de pacientes vivos, é difícil criar uma rotina para manter cadáveres com órgãos em condições de uso para outras pessoas. Hospitais públicos não ligados a universidades são tragédias que as reportagens de TV já mostraram muitas vezes, com doentes em macas pelo corredor, ou sentadas cambaleantes por não conseguirem vaga nem nas macas. Enfim, em condições assim, como reservar vaga para cadáveres à espera da retirada de órgãos? Ainda assim, quase por heroísmo dos profissionais, muitas vezes isso é feito e nos últimos anos houve um aumento no número de transplantes e doação. Segundo o balanço da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, em 2006, houve no Brasil 146 transplantes de coração. Em 2015, último ano com dados fechados, foram 353. Foram 1.037 transplantes de fígado em 2006. Em 2015, 1.811. Pulmão, cirurgia delicadíssima e com cuidados mais complexos: 49 em 2006, 74 em 2015. Em relação ao rim, o crescimento foi maior, tanto proporcionalmente quanto em números absolutos: 3.299 em 2006, 5.573 em 2015. “Antes era preciso que houvesse no hospital uma equipe médica preparada para constatar a morte cerebral. Agora uma equipe preparada para isso vai até o hospital”, diz Paulo Pêgo. “Ficou muito mais ágil”, acrescenta. A norma determina que dois médicos examinem o paciente. Em geral, o exame é feito na carótida (no pescoço), com equipamento de imagem. Contatado que o sangue não está indo mais para o cérebro, é atestada a morte cerebral. O sangue continua circulando pelos demais membros do corpo, mas o óbito é irreversível. Caso o paciente não tenha registrado na carteira de identidade a opção de não doar, um profissional (que não é médico) procura a família e pergunta se órgãos podem ser retirados para continuarem vivos em outra pessoa. As estatísticas mostram que, em SAÚDE FILA GRANDE, POUCOS DOADORES Foram realizados mais de 5.500 transplantes de rim em 2015.


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