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Revista da CAASP - Edição 27---

Histórias emocionantes e curiosas, que somam amor e gratidão, não faltam nos consultórios dos médicos que se especializaram em transplante no Brasil, como Paulo Pêgo Fernandes, do Incor, em São Paulo, vice-presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Em agosto do ano passado, o hospital comemorou mil transplantes realizados desde 1985 e reuniu pacientes como o professor Elias Manoel da Silva, de 53 anos, o transplantado número 1.000. Ele estava tão feliz que fez um apelo às famílias: autorizem a doação de órgãos. “Depois da vida, a doação é a coisa mais importante. O morto leva um coração, dois pulmões, rins, pele, pâncreas. Tudo isso, se não é doado, morre. Quando é doado, salva vidas. É assim que eu vejo a doação”, disse. Na cerimônia de comemoração, estava também a pequena Heloisa Cardoso da Silva, de três anos, brincando entre os convidados, cena que jamais seria vista dois anos antes, quando ela mal respirava por conta de um coração mal formado. Coração transplantado, Heloisa pôde, enfim, se tornar uma criança como todas as outras. Na festa do Incor, o Governo Federal confirmou uma medida que coloca à disposição do sistema de saúde permanentemente um avião da Força Aérea Brasileira para o transporte de órgãos. É uma medida que, segundo os especialistas, tem um valor muito mais simbólico do que prático. No setor dos transplantes, o problema não está no transporte, mas no que vem antes. “Faltam recursos”, diz Paulo Pêgo Fernandes. REVISTA DA CAASP 23 Noventa e cinco por cento dos transplantes no Brasil são de pacientes do Sistema Único de Saúde, o SUS. Isso porque a Agência Nacional de Saúde Suplementar exige que os convênios garantam apenas dois tipos de transplantes: rim e córnea. “Estão fora da lista de cobertura obrigatório fígado, coração, pulmão e todos os outros”, observa. A tabela do SUS, no caso dos transplantes, não cobre o custo dos hospitais. Para o transplante do coração, por exemplo, os hospitais recebem R$ 55 mil, mas o custo é bem maior: não fica por menos do que R$ 100 mil. Para realizar transplantes, o Incor recorre a recursos da Fundação Zerbini, que ajuda na manutenção do hospital. Mas não são muitas as instituições no Brasil com capacidade para pagar essa conta. Assim como o Incor é o que mais realiza transplantes do coração no País, o Hospital São Paulo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) está no topo da lista em relação a rins. Mas, como é hospital universitário e tem orçamento do Governo Federal, não depende exclusivamente da verba do SUS. Mas as dificuldades são enormes. SAÚDE Incor da USP, 1000 transplantes desde 1985. “DEPOIS DA VIDA, A DOAÇÃO É O MAIS IMPORTANTE” WEB WEB


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