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Revista da CAASP - Edição 27---

novo livro... (Risos) Aí há de fato um certo clichê, com o qual o personagem principal brinca. O livro é em primeira pessoa, e o sujeito foi escrachado publicamente em função de uma atitude da mulher. Então, ele está com raiva dela e a pinta com as piores tintas. Como a narração é em primeira pessoa, acho que tem que dar um desconto para o narrador, como o cara falando da Capitu em Machado, guardando as proporções, evidentemente. Espero que o leitor consiga manter esse distanciamento – é aquela questão da ironia... Vamos mudar para sua outra profissão, o jornalismo. Você acha que o jornalismo está sendo tragado pelas redes sociais? Eu diria que ele está sendo tragado pelo excesso de narrativas que existem no mundo. Não sei se “excesso” é no mau sentido. Existem muitas narrativas, muitas opiniões, mas metade da internet comenta notícias produzidas por jornais, e jornais que têm dinheiro para pagar um repórter para ir lá e descobrir coisas junto a fontes primárias. Eu acho que a crise do jornalismo não é em relação ao jornalismo em si, mas sim em relação aos modelos de negócio, de financiamento do jornalismo – esse é o grande problema. Você abre sua timeline e vê notícias do mundo inteiro, fontes de informação do mundo inteiro, então por que você vai pagar para ler o jornal da sua cidade? Essa é a grande questão que ainda não foi resolvida. Eu espero que seja, porque eu sou jornalista, torço pelo jornalismo. Acho que com todos os defeitos – e são muitos – o jornalismo cada vez mais precisa existir. Você fala do jornalismo formal, com hierarquização das informações, titulação, edição, normas éticas específicas... Sim, falo principalmente da profissionalização. Eu acho muito importante que as pessoas sejam pagas para exercer o jornalismo, mesmo quando atuam de forma independente. Se elas não forem pagas pelo jornal, que sejam pagas por uma outra entidade qualquer. Se elas não forem pagas, poderão dar mil opiniões, mas não vão ter condições de viajar para uma tribo indígena e descobrir como os índios vivem – isso é jornalismo. Eu espero que no futuro se encontre um modelo democrático, que torne possível o jornalismo se financiar por meio de leitores. Os jornais tradicionais não conseguem isso porque são muito caros, até por causa do papel e da sua cultura industrial, redações muito grandes. Talvez no futuro os jornais percam essa grande estrutura que têm hoje e fiquem mais 16 REVISTA DA CAASP MICHEL LAUB | ENTREVISTA


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