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Revista da CAASP - Edição 27---

O seu livro também fala, e de modo irônico, das relações pessoais em ambientes corporativos. Por que há tantos jargões e regras de conduta nos locais de trabalho? É muito fácil perceber que o jargão é usado como instrumento de poder. É só você analisar uma discussão na fala de um acadêmico, na fala de um médico, na fala de um advogado. O fato de ele usar termos desconhecidos de pessoas que não estudaram aquele assunto serve para puxar para si uma superioridade em relação ao outro. Linguagem é poder, e quanto mais você domina a linguagem mais poder você tem. O livro brinca um pouco com isso, tanto que começa com umas piadas... o que é uma piada? É um vocabulário indevido para tratar determinado assunto. Dentro do livro, na hora de narrar, eu também fiz muita brincadeira com o modo como cada grupo social de comunica – o grupo feminista, o grupo corporativo, o grupo publicitário, os comentaristas de internet, os grupos religiosos. Será que é possível tratar de assuntos muito quentes sem ser ofensivo, mesmo que você use a palavra devida para aquilo? Dentro das relações de amizade e mesmo entre casais, é muito comum que se tenha um vocabulário próprio. O consumo de drogas está presente no livro, com a naturalidade que se vê em certos grupos. Essa naturalidade, mesmo um certo glamour, ao tratar da questão das drogas não deve ser entendida como uma aprovação, correto? No mundo em geral, certamente o tema das drogas não deve ser banalizado. Os argumentos pró liberalização são no sentido de que a medida pode gerar um controle maior. Eu bebo, por exemplo. Já usei drogas, e não defendo isso como meio de vida para ninguém. O que não dá é para ser hipócrita em relação a isso. Eu acho que as regras éticas que valem fora da literatura não valem dentro dela, inclusive eu acho que a literatura, e a arte em geral, é um espaço onde as discussões morais têm que chegar ao seu limite. Um livro que prega coisas que são ruins no mundo aqui fora vale a pena. Assim como no mundo psicanalítico, que vai pegar coisas terríveis do seu subconsciente, a arte também deve ter coragem de mexer nessas coisas, até como forma de exorcizar o que está escondido. Mas a droga não é o tema central de “O tribunal da quinta-feira”. Já em “Diário da queda”, o personagem central era alcoólatra – eu nunca tive uma preocupação evangelizadora, e sim em mostrar que isso acontece, que as pessoas lidam com o problema de determinadas formas e que isso pode ser interessante na ficção. A figura – consagrada, digamos assim – da ex-mulher vingativa também está presente no seu REVISTA DA CAASP 15 ENTREVISTA | MICHEL LAUB DONALD TRUMP ESCREVER BOBAGEM NO TWITTER É UMA COISA; JÁ UM POBRE COITADO NÃO MERECE SER LINCHADO POR ISSO


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