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Revista da CAASP - Edição 26-

36 REVISTA DA CAASP O Brasil é o maior mercado mundial do crack, segundo divulgou o Instituto Nacional de Pesquisa de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (Inpad), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em 2012. O estudo, denominado Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), aponta que o consumo efetivo da droga no país representa 20% do consumo mundial do crack. O alastramento dessa substância nas pequenas e médias cidades paulistas na última década e, consequentemente, sua maior visibilidade fez com que a questão passasse a ser tratada como problema de saúde pública. O crack é a forma da cocaína com maior poder de provocar compulsão e dependência. “Por ser inalado na forma de fumaça, o crack chega ao cérebro muito mais rápido que a cocaína em pó. Ele acessa o cérebro e cria o ‘barato’ em 10 a 15 segundos. A cocaína em pó leva pelo menos 10 minutos para surtir o mesmo efeito”, explica a psiquiatra Ana Cecília Marques, membro do Comitê de Dependência Química da Associação Brasileira de Psiquiatria. Ao fumar uma pedra de crack o usuário tem seu cérebro inundado de dopamina. Quando chega ao cérebro, inibe a recaptação da dopamina liberada por sua inalação. A dopamina é um neurotransmissor responsável por levar do cérebro ao resto do corpo a informação de prazer. Em condições normais, é liberada ao comer um prato saboroso, ao se ter relações sexuais ou em qualquer situação que cause felicidade. O crack faz com que essa mensagem de prazer seja emitida por mais tempo e com mais potência. É esse excesso neuroquímico que cria um sentimento permanente de empolgação, bem-estar e euforia no usuário. “Esse efeito passa tão rapidamente quanto surge, em cerca de 15 minutos após a primeira administração. Por isso, o padrão é um usuário de crack fumar cinco pedras de crack seguidas, pelo menos”, diz Ana Cecília. Como a sensação de bem-estar causada pelo uso da droga é muito mais intensa que as geradas naturalmente, e tem curtíssima duração, o risco de vício é alto. Em média, a dependência fica caracterizada aos seis meses de uso. Na dependência, há baixa produção de dopamina, o que gera ao usuário intensos desconfortos como ansiedade, humor alterado, diminuição da energia e até problemas cognitivos. “Existem dois momentos em que o dependente vai atrás da droga. O primeiro momento é para alívio do mal-estar da abstinência. O segundo momento - que configura inclusive o diagnóstico de dependência - é a fissura. A fissura é um fenômeno não consciente, em que por existir uma neuroadaptação do cérebro à droga ele passa a necessitar dela para executar suas funções. É um fenômeno similar ao sentir fome e buscar um alimento”, esmiúça a especialista da ABP. Ana Cecília, da ABP: “a dependência deteriora a função cognitiva” SAÚDE Victor Alfaro


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