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Revista da CAASP - Edição 24

Senado Federal para maior conforto dos senadores que o frequentavam. Ou mesmo os detalhes arquitetônicos do Palácio do Catete, apresentados na parte histórica, vistos sob a ótica do comissário Alberto Mattos. A narrativa policial do submundo carioca mostra o mesmo mundo corrompido que a história política vai desvendando nos meandros do governo getulista. No lugar de empresários a corromper as autoridades políticas nas altas esferas, no baixo mundo dos tiras – gíria que era realmente utilizada na década de 1950 e que hoje só vemos em legendas de filmes traduzidos – aparecerão os bicheiros corrompendo delegados, comissários e investigadores de polícia, juízes, deputados e senadores. Bicheiros contratam assassinos para crimes brutais da mesma forma que empresários o fazem para eliminar sócios ou concorrentes em negociatas. Por meio de sucessivos triângulos amorosos, convivem, no mesmo mundo, prostitutas e mulheres da sociedade. Os conflitos e a colaboração entre investigadores, informantes, peritos, legistas e outros são mostrados no dia a dia de uma delegacia. Por último, não se pode compreender a magia de Agosto sem menção ao carisma do protagonista e alter ego do autor, o comissário de polícia Alberto Mattos, um policial honesto e competente, que tem como namorada uma prostituta, é amante da filosofia e da ópera, mora sozinho, dorme vestido, só entrou para a polícia porque não arranjou emprego melhor e porque imaginou – em vão – que teria tempo para estudar para o concurso de juiz no intervalo de seus plantões. Pelas memórias de juventude do comissário Mattos, o leitor visitará também o Teatro Municipal do Rio de Janeiro, no tempo das claques, dos claqueurs e dos maestros de claque indispensáveis aos espetáculo.| Luiz Barros é escritor e jornalista


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