Page 18

Revista da CAASP - Edição 23

andou pela Europa e pela América do Sul, financiado pelo Governo Federal, pelos militares. Em certo momento, os militares verificaram que o Fleury não era exatamente aquilo que eles queriam. Eu me lembro que tive uma entrevista com um coronel do Exército. Esse coronel, de sobrenome Restel, queria saber o que realmente estava acontecendo, pois o Exército tinha na cabeça que eu era metido na subversão e que a minha atuação se devia a essa raiz. A conversa foi no 2º Exército. Nós ficamos uma noite inteira conversando sobre o que era o Esquadrão da Morte. Ele ficou convencido de que o que eu estava fazendo era apenas uma atuação do Ministério Público relativa a uma pessoa que estava furando as normas de Direito Privado e Público. Eu conversei com o coronel Restel e acho que o convenci. Em determinado momento, Fleury se tornou perigoso para o governo militar, não? Tanto que foi eliminado. Mas isso não foi provado. Por que ele foi enterrado sem autópsia, em caixão fechado? Isso é conversa mole. O Fleury, nessa época, andava bebendo muito e falando o que não devia falar. O que o senhor sente quando vê um deputado enaltecer o coronel Brilhante Ustra em plenário? É um absurdo. Dentro da democracia, temos que suportar, mas não podemos deixar passar em brancas nuvens. É preciso combater isso. Na sua opinião, a Lei da Anistia deveria ser revista para que houvesse julgamentos e punições por torturas e assassinatos? Eu não mexeria mais nisso. Acho que a Lei da Anistia tem muitos defeitos, apesar de hoje não me recordar bem dos seus termos. Mas eu acho que a Lei, do modo com que ela foi editada, ela mais atendeu aos reclamos do pessoal que cometeu crimes durante a ditadura do que às pessoas que combateram esse crimes. Mesmo assim, o senhor acha que ela não deve ser revista? Acho que não. O que passou... passou. Procede a informação de que o senhor prestou serviços de consultoria à empresa Cogelex, ligada à Alston? Tive um contrato de trabalho com eles, mas não me lembro a data. O senhor foi chamado ao Ministério Público para falar sobre isso, no âmbito das investigações sobre o cartel de trens em São Paulo? Não me lembro. Eu fiz um depoimento no Ministério Público, mas não era exatamente focado nessa questão, porque eu nem estava dentro dessa questão. O senhor era procurador de Justiça quando prestou consultoria à Cogelex? Não, eu não era mais procurador. | 18 REVISTA DA CAASP HÉLIO BICUDO |w ENTREVISTA


Revista da CAASP - Edição 23
To see the actual publication please follow the link above