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Revista da CAASP -Edição 16 - Final - 1

ENTREVISTA \\ “O Brasil está próximo da tempestade perfeita” O currículo completo de Rubens Ricupero preencheria esta edição. Fiquemos nos itens de maior visibilidade. Diplomata de carreira, é também formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da USP. Foi embaixador do Brasil nos Estados Unidos e na Itália, secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) e subsecretário-geral da ONU. No governo Itamar Franco foi ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal antes de ocupar a pasta da Fazenda, cargo que deixou depois da famosa frase vazada por um sinal de satélite que ele imaginava fechado: “O que é bom a gente mostra; o que é ruim a gente esconde”. Ao editor da Revista da CAASP, Paulo Henrique Arantes, ele mostrou sincero arrependimento pelo que disse. A passagem infeliz, contudo, em nada diminui sua credibilidade e sua autoridade para abordar qualquer tema de política internacional ou de economia. Nas linhas a seguir, o atual diretor da Faculdade de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) analisa as mais urgentes questões globais, suas causas e possíveis soluções. Também disseca o momento atual da economia brasileira, sempre com o distanciamento exigido dos analistas, mas com o conhecimento de quem esteve, muitas vezes, dentro das esferas decisórias. E ele não 8 // Revista da CAASP / Abril 2015 enxerga bons tempos pela frente. Revista da CAASP - O que está acontecendo no mundo neste início do Século XXI? Oriente Médio, Hungria, fala-se até em nova Guerra Fria... Rubens Ricupero - De maneira sintética, eu posso dizer que há duas grandes tendências, sobretudo nos últimos anos. Do ponto de vista econômico e social, nós ainda estamos vivendo sob o signo da grande crise financeira e bancária que se iniciou nos Estados Unidos por volta de 2007/2008, e que afetou boa parte do mundo. Embora os Estados Unidos deem sinais de que começam a superar essa crise, isso ainda é muito lento, os próprios americanos ainda não recuperaram os indicadores de antes. A crise ainda é muito grande na Europa, basta ver que dias atrás, na Grécia, ganhou a eleição um partido que não se conforma mais com o tipo de política de austeridade que lhe foi imposta. Então, eu digo a você: do ponto de vista econômico e social, o mundo ainda vive a crise. A China, mesmo que no início tenha tido muito êxito ao enfrentá-la, hoje desacelerou muito. Isso tem afetado as exportações de matérias primas não só do Brasil, mas de quase todos os países da América Latina e da África, que nos últimos anos surfaram na crista da onda chinesa.


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