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Revista da CAASP -Edição 16 - Final - 1

ESPECIAL \\ // “Dá pra levar o curso de Direito com a barriga” No Brasil, mesmo quem ainda não passou no Exame da OAB, como o bacharel Cláudio Quintal, que é funcionário público, considera importante algum tipo de avaliação pós-faculdade. “Se toda pessoa formada puder advogar, sem fazer um exame, a profissão vai perder em prestígio e em qualidade”, acredita. Arquivo L M P Lucca (segundo da esq. para a dir.) e colegas: Carteira da OAB na mão e dever cumprido 28 // Revista da CAASP / Abril 2015 Cláudio já atua na área jurídica, como assessor, ao mesmo tempo em que procura complementar as deficiências do curso de graduação com estudos por conta própria. “A prova da primeira fase deveria mudar, para acabar com as pegadinhas, mas o exame deve continuar obrigatório, para não permitir a entrada na profissão de quem não está preparado”, opina. Lucca Martins Portocarrero concluiu o ensino médio em escola particular de Cuiabá, Mato Grosso, e veio para São Paulo para cursar Direito na Universidade Mackenzie. Depois de cinco anos, no último dia 26 de março, Lucca era um dos advogados na Cerimônia de Entrega de Carteiras no Salão Nobre da OAB-SP. “Estou com aquele sentimento do dever cumprido, feliz e satisfeito por saber que, a partir de agora, eu posso me dedicar à profissão com que sempre sonhei”, comemora. Às vésperas de completar 23 anos de idade, ele passou no primeiro Exame de Ordem que prestou, marcando 46 dos 80 pontos possíveis da primeira fase e nota 9,5 na prova de nota máxima 10. “Não foi fácil, mas a avaliação é necessária”, afirma. “Acabar com o Exame de Ordem seria péssimo”, diz. “Sei que muitos colegas podem não gostar do que vou dizer, mas é a verdade: dá para levar o curso de Direito com a barriga, e se formar mesmo não sendo um bom aluno. Se não houver Exame de Ordem, é esse profissional que teremos. A sociedade perderá muito.” Lucca estudou em uma das melhores universidades do País. “Imagine como são as piores”, comenta. Para ele, a sociedade ganha com o Exame da OAB, pois a prova garante a melhor qualidade dos profissionais. “Advogado trabalha com a vida das pessoas. O que acontece se a mãe de uma pessoa não conseguir internação porque o advogado cometeu um erro no processo? Ou se um inocente permanecer preso porque o advogado falhou tecnicamente? O Direito é um assunto sério demais para permitir que pessoas despreparadas trabalhem”, verifica. Em casa, ele guarda uma foto do ano passado em que aparece com os colegas de faculdade Gustavo, Guilherme e Felipe, todos de gravata vermelha, a cor do Mackenzie. “Tínhamos acabado de tirar foto para o álbum de formatura da turma de Direito. Éramos estudantes de Direito felizes, quase bacharéis, mas ainda não éramos advogados. Agora nós somos. Mas sei que, na minha turma, de cada dez alunos que prestaram o Exame, quatro não passaram. Eles devem insistir, porque a realidade é que a universidade, mesmo as melhores, como é o Mackenzie, não garante qualidade”, aconselha.


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