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Revista da CAASP -Edição 16 - Final - 1

É difícil prever o que vai acontecer quando essa operação finalmente chegar à sua conclusão. Tanto pode se sustentar que ela já, de certa forma, revelou o mais grave que tinha a revelar, como existem pessoas que dizem que haverá coisas ainda mais graves. O Elio Gaspari (colunista da Folha de S. Paulo e de O Globo), outro dia em sua coluna, dizia que podem vir coisas muito mais sérias pela frente. Então, o que se tem é muita incerteza e, além do mais, não se pode esquecer que tem muitas empresas, sobretudo as empreiteiras de obras públicas, que podem ficar comprometidas. Algumas dessas empreiteiras têm concessões de aeroportos, de estradas. Um dos principais participantes do Aeroporto de Guarulhos é a OAS, que está muito afetada pelas investigações, tem vários executivos presos em Curitiba e há poucas semanas deixou de pagar uma dívida grande. O Brasil pode caminhar, em termos de infraestrutura, sem as empresas envolvidas no escândalo da Petrobrás? O que se pode afirmar é que neste ano o Brasil vai enfrentar uma conjunção de muitos desafios, um reforçando o outro. É preciso ver se nós temos capacidade de enfrentar esses desafios. O presidente Itamar Franco referiu-se ao senhor como “o sacerdote do Plano Real”. O senhor se reconhece nesse posto? O presidente Itamar foi muito generoso, mas o que ele queria dizer com isso é que eu me empenhei muito em convencer a opinião pública de que o Real ia dar certo, oferecendo informações na televisão. Não era com propaganda como as que vendem sabonete, como essa marketagem da eleição. Desde o início nós dissemos que, primeiro, não haveria choque nem pacotes. Não haveria surpresas, ao contrário do passado. Anunciamos com antecedência tudo que iríamos fazer, com pelo menos uma semana ou 10 dias, falamos em entrevistas de imprensa, explicamos, e só depois implementamos. Segundo, explicamos que não haveria congelamento de preços como houve no Plano Cruzado, tudo seria feito de acordo com a tendência natural do mercado. Terceiro, nós demos todas as informações de que a população precisava. Eu ia à televisão, fazia aqueles programas explicando quando iria se fazer a mudança do padrão monetário, qual seria o quociente para transformar a moeda velha em nova. Tudo isso foi um esforço de persuasão, com palavras simples, não subestimando a inteligência da população, mas procurando explicar as razões dos atos. É nesse sentido que o Itamar dizia que era quase uma pregação religiosa. Mas, na verdade, o mérito do Real é de muitos. É do Itamar, é do Fernando Henrique, é do Ciro, é da equipe. E eu acho que é muito da população, porque ela apostou, acreditou. Sem o fator psicológico não teria dado certo. O senhor se arrepende daquela fala sua que vazou (“eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde”), numa entrevista ao jornalista Carlos Monforte, da TV Globo, ou aquilo foi algo sem importância? Abril 2015 / Revista da CAASP // 19 Foi um grave erro da minha parte. Foi, sem dúvida, como eu sempre tenho reconhecido, um momento em que eu disse muitos disparates, revelei uma face desagradável de vaidade. Eu estava um pouco incensado por aquele ritmo frenético.


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