Page 18

Revista da CAASP -Edição 16 - Final - 1

EENNTTRREEVVIISSTTAA \\ Como explicar o comportamento do preço do petróleo no mundo? O pré-sal vai trazer benefícios concretos ao Brasil, principalmente em face do que está acontecendo na Petrobrás? Nós estamos vivendo um momento de grande surpresa, que foi essa queda súbita do petróleo. Até poucos meses atrás o barril estava acima de 100 dólares, agora desabou para 50 dólares ou menos. Os especialistas não se põem de acordo sobre quais as razões fundamentais, ou melhor, há várias razões. Há alguns que gostam daquela teoria conspiratória que atribui aos Estados Unidos uma capacidade tão extraordinária de, junto com a Arábia Saudita, baixar o preço do petróleo para quebrar a Rússia, o Irã e a Venezuela. Eu vejo isso com muito ceticismo, porque se os Estados Unidos tivessem de fato essa capacidade de feiticeiro, eles não teriam se metido em tantas encrencas. Eu me inclino a crer que essa queda do preço do petróleo é consequência de vários fatores. Um deles, sem dúvida, é a queda da demanda, o fato de que o mundo ainda não superou a crise financeira. A Europa, que é um polo econômico importantíssimo, não está crescendo ou está crescendo quase nada. O Japão também não conseguiu superar a sua crise. A China desacelerou de 11%, 12% para 7,3%. Tudo isso fez com que se reduzisse a demanda por petróleo. Isso aconteceu ao mesmo tempo que havia um segundo fator, que foi o aumento da oferta, porque os Estados Unidos aumentaram gigantescamente a produção de gás e de petróleo das rochas betuminosas. Os Estados Unidos ainda não são um grande exportador, mas deixaram de ser um grande importador. Eles aumentaram a oferta em 5 milhões de barris por dia, e isso é claro que teve um impacto, como também começou a causar impacto o próprio Brasil e outros países que passaram a entrar na produção. Demanda menor, oferta maior, daí vem o terceiro fator: a Arábia Saudita, que representa mais ou menos 20% do petróleo exportado, e que é o país que tem o menor custo de produção, tem um certo interesse em, durante algum tempo, reduzir o preço do petróleo, para criar dificuldades para esses competidores quer passaram a rivalizar com ela. Como preço estava muito alto, compensava você investir em processos mais caros de produção, como o pré-sal, como o shell gas, como as areias betuminosas no Canadá, o petróleo pesado do Orenoco. Com isso, a Arábia Saudita vai limpar o campo de competição de um bom número de competidores. Embora eu não acredite que esse preço baixo vá continuar por anos, isso já cria muita dificuldade. O próprio Brasil fica numa situação de incerteza. No caso do pré-sal, existem muitas informações disparatadas sobre qual é o limite do preço do barril que torna o pré-sal antieconômico. Não se sabe exatamente, porque as cifras que se citam são disparatadas. O fato é que o pré-sal, como se sabe, custa muito caro, não é como o barril do petróleo da Arábia Saudita. E a Petrobrás, com esse regime novo, precisa de muito dinheiro, pois ela é obrigada a participar de tudo. Com a atual incerteza em torno da empresa, fica difícil ela conseguir levantar recursos. Com o escândalo, que não sabemos quando e como vai acabar... quando eu falei da tempestade perfeita que o Brasil está enfrentando, eu esqueci de mencionar a Operação Lava Jato! 18 // Revista da CAASP / Abril 2015 “Dilma herdou de si própria uma situação mais grave do que a que Lula herdou de Fernando Henrique”


Revista da CAASP -Edição 16 - Final - 1
To see the actual publication please follow the link above