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Revista da CAASP -Edição 16 - Final - 1

De qualquer modo, Dilma deve a reeleição ao Nordeste, às regiões mais pobres, e nessas regiões ela ganhou por causa dos programas sociais. Eu acho que isso é um mérito que eles tiveram, mas como exageraram na dose... Marcílio Marques Moreira costuma citar o provérbio romano de que “a dose é que faz o veneno”. Quando se gasta muito além do que se pode, com todos esses truques fiscais que fizeram, você pode fazer o bem, mas quebra. Abril 2015 / Revista da CAASP // 17 Até onde essa situação pode levar? O que é perigoso, na situação atual do Brasil, sem querer ser alarmista, é que nós estamos nos aproximando neste ano daquilo que de fato mereceria a qualificação de “tempestade perfeita”. Essa expressão nasceu por causa de um fenômeno que houve em Nova York há uns 10 anos, quando eles tiveram uma terrível tempestade, ao mesmo tempo que a meteorologia foi destrutiva houve um colapso do fornecimento de energia elétrica, os metrôs pararam, não havia iluminação, as pessoas tinham que voltar para casa a pé, começou a ocorrer saques de lojas. É a conjunção de tudo que pode dar errado: você não tem luz, não tem polícia, não tem segurança, não tem visibilidade. Isso é que é a “tempestade perfeita”, e numa ocasião desse tipo você tem de ter uma capacidade extraordinária de lidar com a complexidade. O Brasil está numa situação parecida. Vejamos: nós estamos com uma inflação muito alta, e ela é uma inflação muito renitente, porque o governo segurou os preços e agora é obrigado a soltar. Em geral, em economia, quando o país está com uma inflação muito alta, a compensação é que a economia está crescendo mais, aquecida, agora nós estamos com o pior dos dois mundos: uma inflação muito alta e não estamos crescendo. O Joaquim Levy disse em Davos que a economia ficou no mesmo plano, mas não é verdade, nós estamos retrocedendo. No ano passado a economia cresceu 0,2%, mas a população cresceu 0,9%. Em termos per capita o Brasil encolheu no ano passado, e este ano provavelmente vai encolher de novo. O ajuste fiscal, evidentemente, não vai ajudar a economia a se estimular, porque ele sempre tem um efeito recessivo. A poupança está baixíssima, ano passado caiu a menos de 14%, com um investimento interno de menos de 18%, quando precisaria ser de 23%, 24%. E, além do mais, temos ameaças graves de crises de água e energia elétrica. Então, se somarmos isso tudo nós temos um panorama muito complicado. Em 2002 a situação também era bem ruim. Inflação, juros e desemprego eram bem maiores do que hoje, por exemplo. O país tinha pouco mais de 30 bilhões de dólares em reservas internacionais, hoje tem mais de 300 bilhões. Como a situação foi resolvida naquela época? Naquele momento a equipe do presidente Lula, do Palocci, do Meirelles, aplicou uma política que em pouco tempo recuperou o país, em questão de oito ou 10 meses. Mas a conjuntura internacional era outra, foi antes da crise financeira, na época em que a China estava crescendo aceleradamente e não havia um problema tão grave como o déficit orçamentário de hoje. A Dilma herda de si própria uma situação muito mais grave do que a que o Lula herdou do Fernando Henrique.


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