Page 16

Revista da CAASP -Edição 16 - Final - 1

EENNTTRREEVVIISSTTAA \\ A presidente não poderia ao menos ter dado mais liberdade aos seus chanceleres? Ela não deu. Eles ficaram muito dominados, também não tinham força própria. Vamos ver se neste segundo mandato isso muda. Por enquanto, estamos muito no início para julgar, e o Itamarati está numa crise grave, sem recursos. Eu gostaria de lembrar que, na fase do Lula, um aspecto que favoreceu muito a diplomacia era o prestígio enorme que o Brasil tinha, porque parecia que o país tinha dado certo, estava crescendo, tinha um bom comércio exterior, exportava produtos valorizados, e além do mais se tinha a impressão de que éramos um país que estava caminhando na direção correta, reduzindo a desigualdade, a pobreza – o que, aliás, era verdade. E o Lula encarnava tudo aquilo que o mundo deseja: um homem de origem operária que chegou a presidente e mostrou-se pragmático. Lula tinha a seu favor a conjuntura, a política social e a biografia. Dilma não tem isso a seu favor. A biografia dela é de grande guerrilheira, mas não é a mesma coisa que um homem de origem humilde. Em segundo lugar, hoje se discute se os ganhos sociais serão sustentáveis. Em terceiro lugar, o Brasil entrou numa fase de tais dificuldades econômicas que hoje é visto mais como um país-problema do que um país que traz soluções. É um país que está se aproximando de uma estagnação da economia, não cresce, tem inflação alta. Isso afeta o prestígio, e o prestígio é um elemento importante da projeção diplomática. Por que, com tudo isso, Dilma foi reeleita? Sem nenhum sectarismo, eu diria que ela conseguiu se reeleger graças, sobretudo, ainda ao rendimento das políticas sociais, o que é um mérito do PT. O PT tem muitas políticas sociais, algumas melhores que outras. A Bolsa Família, sem duvida, é unanimidade. São inúmeras. Por exemplo, todas as políticas feitas para favorecer a entrada de jovens pobres nas universidades, o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), o Minha Casa Minha Vida. Esse tipo de iniciativa, de um lado, merece aplauso de todos que desejam ver a redução da desigualdade e da pobreza, inclusive o nosso aplauso por ver o país mais justo. Por outro lado, houve um exagero nos gastos públicos. O Brasil deu um passo além da perna. Vou lhe dar um exemplo. Eu li nesta manhã uma coluna do Mansueto de Almeida, que é um grande estudioso das contas públicas, defendendo a Dilma até. Alguém tinha dito a ele que a Dilma falava muito em educação, mas no primeiro mandato dela não tinham aumentado tanto os gastos com educação quanto ela havia prometido. E ele mostra que não, ele mostra que a média de aumento dos gastos com educação feitos pela Dilma foi de 9,1% ao ano quando a economia crescia 1,2% ao ano. Agora, como ele diz, de um lado é formidável, mas de outro não se mantém. Isso, de certa forma, aconteceu com todos os gastos sociais. Uma observação: a Bolsa Família representa 0,5% do PIB, ou R$ 25 bilhões por ano. O Seguro Desemprego mais o Abono Salarial, que são dois programas muito discutíveis, somados, chegam a mais de R$ 40 bilhões – por isso o segundo governo Dilma começou agindo corretamente nesse ponto. 16 // Revista da CAASP / Abril 2015 “O Brasil deu um passo maior que a perna nos gastos públicos”


Revista da CAASP -Edição 16 - Final - 1
To see the actual publication please follow the link above