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Revista da CAASP -Edição 16 - Final - 1

Eu, por exemplo, não sou crítico daquela tentativa de conduzir um acordo com o Irã. A iniciativa valia a pena e houve um encorajamento por parte dos americanos, mas depois a forma como ela foi conduzida foi um erro, ao meu ver, porque houve um momento em que se viu claramente que não ia ser possível obter de Teerã o que os americanos consideravam o mínimo. Em vez de dar tempo e procurar negociar mais, o Brasil se precipitou porque o Lula já tinha se comprometido a ir, já estava indo para lá. Antes de chegar a Teerã, ele visitou Moscou, e numa entrevista coletiva ao lado do Putin, o presidente russo estimou uma chance de êxito de 20 ou 30%. Lula agiu certo ao antecipar a Putin o possível acordo? Putin era presidente de um país que tinha peso, que tinha acento no Conselho de Segurança da ONU. E o Lula lhe disse que a chance de êxito era de 100%. A partir de então, ele não tinha mais como recuar. Ele quis tornar aquilo um fato consumado. Mas eu não acho que tenha sido um erro a ideia de tentar. Lula tentou, não deu certo, como eu acho que ele tentou muito bem aquele acordo na OMC (Organização Mundial do Comércio) em 2008. Agora, o que eu diria a você é que, em contraste com o Lula, a Dilma Rousseff tem pouco interesse pela política externa, e como o período dela tem sido marcado também pelo agravamento dos problemas internos, a economia já não favorece aquele prestígio, eu diria que a diplomacia tem muito pouco a ostentar. Inclusive, algumas das iniciativas que ela tomou foram desastrosas, como a suspensão ao Paraguai do Mercosul para permitir a entrada da Venezuela. Aquilo foi uma iniciativa dos argentinos à qual nós nos somamos. A Dilma teve alguns méritos, porque retificou a política sobre os Direitos Humanos, inclusive sobre os Direitos Humanos no Irã. No início, ela mostrava querer relançar a relação com os Estados Unidos, e fez até o programa Ciência Sem Fronteiras. Mas aí, realmente não foi culpa dela: houve aquele problema da espionagem. Ela agiu corretamente ao cancelar a visita de Estado aos Estados Unidos naquela ocasião? Sim, ela tinha razão. Talvez o que se possa dizer é que, depois de protestar, era preciso lançar um canal de negociação que permitisse encontrar um entendimento. Eu acho que não houve, dos dois lados, um esforço nesse sentido. Mas agora a aproximação está acontecendo, por meio do vice-presidente americano, Joe Biden, não? Sim, Joe Biden veio aqui. De qualquer modo, Dilma ficou sem nada a apresentar como resultado da política externa, e além do mais ela não tem temperamento para política externa. No fundo, a política externa não é, em essência, diferente da política interna. A política precisa muito daquilo que os espanhóis chamam de “o dom de gentes”, a capacidade de se gostar das pessoas, de conversar, de discutir. Ela não tem esse gosto. “Lula aproveitou muito bem o preço das commodities em expansão” Abril 2015 / Revista da CAASP // 15


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