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Revista da CAASP -Edição 16 - Final - 1

EENNTTRREEVVIISSTTAA \\ Qual o futuro do Mercosul? Ou ainda, qual o presente do Mercosul? O Mercosul, que já era uma proposta bastante problemática porque perdeu dinamismo há alguns anos, comprometeu-se ainda mais com o agravamento da crise argentina, e agora com o fator ainda mais sério que foi o ingresso da Venezuela, país que não tem muito em comum com os outros. E tanto Argentina quanto Venezuela são dois países cada vez mais dependentes da China, cada vez mais na mão dos interesses chineses. Eu vejo o Mercosul como uma estrutura que ainda convém preservar, com esperança de ressuscitá-la em algum momento. Por exemplo: neste ano vai haver eleições na Argentina, aparentemente há uma boa possibilidade de que vença algum candidato não ligado à atual presidente (Cristina Kirchner). Pode ser que a argentina encontre um caminho, não imediatamente, mas depois de alguns anos, e quem sabe isso permita relançá-lo. Neste momento, eu não vejo perspectiva de o Mercosul voltar a ser o que era, nem possibilidade de propor alguma coisa de concreto quando tanto a Argentina quanto a Venezuela estão aí caindo, com dificuldades de se sustentarem. Gostaria que o senhor diferenciasse a diplomacia brasileira nos governos Fernando Henrique, Lula e Dilma. Vamos às indagações correntes: FHC foi subalterno aos interesses dos Estados Unidos? Lula buscou protagonismo pessoal antes dos interesses do Brasil? Dilma pouco se preocupa com política externa? Há diferenças entre a política externa nas épocas do Fernando Henrique, do Lula e da Dilma. Não é verdade que o Fernando Henrique tenha sido serviçal ou fraco em relação aos Estados Unidos, como afirmam alguns. Tanto assim que a proposta da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) tinha sido feita antes de ele chegar ao Poder, e durante os oito anos em que foi presidente ele negociou e o Brasil sempre resistiu, porque os americanos demandavam muito e ofereciam pouco. Eles queriam ampliar muito os direitos de patentes, por exemplo, queriam ampliar muito a liberalização financeira, não aceitavam abrir o mercado para produtos agrícolas do Mercosul. Fernando Henrique se manifestou em algum momento contra a Alca? Não. E, no início, nem o Lula. O Fernando Henrique apenas afirmou posições negociadoras que tornaram difícil a concordância americana, sobretudo em uma grande reunião que aconteceu no Canadá. Fernando Henrique teve até medidas corajosas, como quando aderiu ao Tratado de Não-proliferação de Armas Nucleares. Você veja que nem o Lula e nem a Dilma voltaram atrás nisso. A política na América Latina não era muito diferente. Hugo Chávez chamava o Fernando Henrique de “maestro”, eles se davam bem. O que houve foi uma diferença nesse lado ideológico, e também no fato de que, evidentemente, o Lula era uma grande vocação internacional, teve a boa fortuna de governar num momento em que o Brasil estava muito bem, com o preço das commodities em expansão. O Lula aproveitou isso muito bem no G20. Talvez o grande diferencial do Lula em relação aos outros presidentes tenha sido quanto ao G20 e os Brics – em ambos ele teve uma participação importante, procurou desempenhar um papel forte. 14 // Revista da CAASP / Abril 2015


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