Page 13

Revista da CAASP -Edição 16 - Final - 1

O Brasil não tem inimigos. Para o potencial de conflito que o Brasil possa ter, que vem dos vizinhos, que são pequenos, as nossas Forças Armadas têm capacidade defensiva. Elas não teriam capacidade para nos defender dos Estados Unidos, por exemplo, mas aí mesmo que gastássemos 100 vezes mais não ia dar. Em termos de marinha de guerra, que hoje é a grande arma decisiva, com porta-aviões com mais de 100 navios em torno de cada um, os Estados Unidos deslocam 2,2 milhões toneladas. Os 10 outros países que vêm em seguida, somados, deslocam menos de 2 milhões de toneladas. O Brasil tem outras prioridades. Antes de pensar em fantasias desse tipo, ele tem que aproveitar dessa felicidade que é não ter problema de segurança. Abril 2015 / Revista da CAASP // 13 O Brasil exerce como deveria seu protagonismo na América do Sul? De maneira geral, o Brasil tem tido um papel respeitável. Ele procurou, em primeiro lugar, sempre conciliar conflitos. Ainda na época da Presidência Lula, quando houve quase que uma guerra entre Venezuela e Equador de um lado e a Colômbia de outro, o Brasil exerceu uma função de pacificador, e assim tem sido quanto à guerrilha colombiana e em certos episódios que ameaçaram a paz no continente. O defeito que eu vejo, apenas, nos últimos governos do PT, é uma tendência para se identificar demais com facções, partidos ou governos que são mais próximos dele ideologicamente, como a Venezuela e a Bolívia. Eu não acho mal que nós tenhamos o melhor tipo de relacionamento possível com eles, mas não deveríamos jamais, por uma questão ideológica, ter manifestado preferência por alguns em detrimento de outros. O senhor está falando de apoio eleitoral? O presidente Lula chegou a subir num palanque na eleição do Evo Morales. Eu acho que um país maduro não deve fazer isso, porque deve respeitar no país estrangeiro que haja cidadãos que não concordam com o presidente e que não gostam que venha um estrangeiro tomar partido. Além do mais, há outro aspecto. É que o Brasil, ao se inclinar demais em favor dos chamados bolivarianos, deixou de aproveitar o potencial que poderia ter no relacionamento com México, Peru, Colômbia, Chile – a Aliança do Pacífico. Embora os homens que fazem parte da Aliança do Pacífico não digam isso, em parte ela foi criada por uma iniciativa do Peru para contrabalançar o peso do Brasil com os bolivarianos. Então, nós deveríamos, ao meu ver, ter atuado de uma forma menos parcial, pois do ponto de vista comercial nos interessa muito ter acesso ao mercado da Colômbia, do Peru, do Chile, do México – o México é o único país da América Latina que tem uma dimensão de mercado parecida com a do Brasil. Estaria o Brasil se tornando bolivariano? Exagero! Isso o Brasil nunca foi, nunca aderiu, apesar de não esconder uma certa inclinação. Como você lembra, nós tivemos participação clara em favor do Chávez, do Maduro, do Morales.


Revista da CAASP -Edição 16 - Final - 1
To see the actual publication please follow the link above