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Revista da CAASP -Edição 16 - Final - 1

EENNTTRREEVVIISSTTAA \\ Você sabe que, infelizmente, a crise econômico-financeira não nos ensinou grandes lições. As reformas que foram introduzidas, mesmo nos Estados Unidos, foram modestas e nenhuma delas foi capaz de evitar a continuação da existência de grandes conglomerados bancários, os chamados “grandes demais para falir”. Ao contrário, depois da crise houve uma concentração maior, vários bancos se uniram. Então, essas organizações não foram capazes de encontrar normas para evitar isso, como não foram capazes de enfrentar o aquecimento global. Quando os Brics apareceram, se imaginou que eles pudessem ser uma força nessa direção. E eles tentaram. No âmbito do Fundo Monetário e no Banco Mundial, os Brics têm muito a ver com a adoção de mudanças naquelas regras de representação dos países emergentes na direção das instituições. Acontece que o Congresso americano não aprovou as regras até hoje. Então, mostrou-se que esse poder era muito relativo, porque não entrou em vigor essa reforma. O que para alguns era evidente desde o início foi se confirmando: embora os Brics pudessem ter alguns interesses convergentes, que levaram a coisas positivas como o banco de insfraestrutura e aquele fundo de reservas, em outras coisas esses países têm muito pouco em comum. Um deles, a China, é muito mais poderoso que os demais, pois é o único que está com possibilidade real de se tornar tão ou mais forte que os Estados Unidos do ponto de vista financeiro – é um país que tem uma política própria, que não é a da Índia, a qual sempre teve problemas com a China. Os Estados Unidos estão se aproximando da Índia, e é claro que essa aproximação é por causa da ascensão da China. Então, o que se nota é que, mesmo dentro dos Brics, China e Índia não se dão bem. A China nunca aceitaria uma reforma do Conselho de Segurança da ONU para que ingressasse nele o Japão e muito provavelmente a própria Índia, porque são rivais. Além disso, tem a Rússia, que está com esse problema próprio do seu contorno. O que sobra é o Brasil e a África do Sul, que têm uma política mais regional, na África e na América do Sul, respectivamente. E Brasil e África do Sul são os dois únicos desses cinco que não são nem potência nuclear, nem militar, sendo que a África do Sul foi potência nuclear, chegou a ter bomba atômica na época do apartheid, é um dos raríssimos casos de um país que teve a bomba e abriu mão dela. Já o Brasil é o mais desarmado desse grupo, e é um país que não tem conflitos de política externa. O Brasil corre o risco de pagar um preço por ser desarmado, ou essa questão não nos deve afligir? O Brasil não tem grandes problemas de segurança, porque está inserido numa área que, para sorte nossa, não é a área tradicional dos conflitos. Qual é a grande área de conflitos? Em primeiro lugar, o Oriente Médio. Depois, aquela área da Europa Oriental, das fronteiras com a Rússia, certas regiões da África, a Ásia naquele entorno da China. 12 // Revista da CAASP / Abril 2015 “A China nunca aceitaria uma reforma no Conselho de Segurança da ONU”


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