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Revista da CAASP -Edição 15

Como relatado na reportagem principal desta edição, e de imediato captado pelas tintas de Paulo Caruso, a marcha de Paris mal disfarçou o oportunismo de alguns chefes de Estado. Ali, marchando ao lado de populares de sincera indignação, estavam desde responsáveis por mortandade em massa até políticos que nunca demonstraram qualquer apreço pela liberdade de expressão, além de alguns verdadeiramente democratas. Tratou-se do que se pode chamar de consenso oportunisticamente forjado. Na mesma semana, ignoraram-se duas mil mortes de inocentes pelos fanáticos do Boko Haram, na Nigéria. Não houve passeata por eles. Não se negue: as imagens do Holocausto tornadas públicas ao término da Segunda Guerra Mundial chocaram, fizeram surgir organizações voltadas ao bem comum e à paz mundial, como a própria ONU, mas ainda foram pouco para impedir o nascimento de novas hordas de fanáticos. A suástica nazista é vista aqui e acolá – até a decorar o fundo de piscinas. De outra parte, o Alcorão é desfigurado por mercenários em luta contra um Ocidente vestido de Tio Sam - velhinho simpático, mas com enorme responsabilidade nessa história toda. Vale questionar a capacidade que têm as democracias de lutar contra o obscurantismo, o preconceito e o ódio, posto que no seio de algumas nações ditas democráticas a tolerância é mera retórica. O Brasil, por exemplo. Se por aqui a liberdade religiosa é fato concreto, a igualdade racial nada mais é que formalidade. As palavras do professor José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, traduzem o que se vê no dia a dia brasileiro: “A manifestação mais trivial de preconceito de cor, e portanto a mais grave, é aquela que de maneira orquestrada promove a mutilação e a exclusão do negro da representação psicológica da vida e dos valores nacionais: a exclusão estética. Num país de miscigenados, onde o negro representa 53% da população, de forma deliberada e por regra não escrita incentiva-se uma estética pública e oficial branca”. No início do Século XXI, a civilização não mostra evolução significativa exceto no campo tecnológico. As relações entre as potências são problemáticas – até uma nova Guerra Fria é cogitada –, não se encontra solução para os conflitos no Oriente Médio, a Europa é palco do ressurgimento de forças políticas de notório conteúdo xenófobo. No Brasil, enquanto caem significativamente os assassinatos de cidadãos brancos, crescem na mesma proporção os homicídios de cidadãos negros, e homossexuais são vítimas rotineiras do mais violento preconceito. Fevereiro 2015 / Revista da CAASP // 7 Parece que nos resta apostar no Século XXII. Fábio Romeu Canton Filho


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