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Revista da CAASP -Edição 15

ESPECIAL \\ Brown, que não tinha antecedentes criminais, roubara um pacote de cigarros de uma loja de conveniências. Mortos cotidianamente nas periferias brasileiras, jovens negros não geram notícia por aqui. Por quê? “A sociedade americana tem uma cultura de organização, reivindicação, denúncia e protestos muito mais marcante e permanente que a brasileira. Os negros americanos têm mais conscientização e organização, bem como uma postura e um histórico de defesa de direitos e de enfrentamento muito mais potentes”, afirma o presidente do Instituto Afrobrasileiro de Ensino Superior, José Vicente. Oswaldo Corneti/Fotos Públicas Enquanto mortes de brancos caíram, as de negros subiram no Brasil “Nos Estados Unidos, em decorrência da dicotomia clara entre brancos e negros, a violência contra o negro é mais visível e identificável. No Brasil, ela se perde na variedade da coloração de pardos, pretos, mulatos e, por isso, a percepção fica mais embotada”, diz, antes de somar a tudo isso a famigerada inércia dos governantes e da própria população brasileira: “É profunda a apatia do governo e da sociedade em relação ao elevado grau de violência social e estatal, além da profunda letalidade da ação policial contra os negros”. De acordo com a Anistia Internacional, nos últimos 10 anos a violência letal entre jovens brancos caiu 32,3% no Brasil, enquanto entre jovens negros aumentou 32,4%. Reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente é uma voz estridente contra o preconceito e a discriminação, e mostrou um duro realismo em entrevista à Revista da CAASP. “A sensação é de que a intolerância tem alcançado dimensões extraordinárias, enquanto os direitos humanos têm José Vicente: “o Brasil não tem conseguido progressos significativos no respeito à diversidade” 24 // Revista da CAASP / Fevereiro 2015 sofrido um processo de rebaixamento”, verifica. “Sob os mais diferentes pretextos, nem todos justificados, razoáveis ou legítimos, pessoas e blocos políticos têm cada vez mais procurado fazer prevalecer sua visão e seus motivos, ainda que isso represente colocar em segundo plano os direitos humanos, estimulando e disseminando a intolerância e a xenofobia”. Segundo Vicente, “apesar dos esforços”, o Brasil não tem conseguido progressos significativos na tentativa de promover uma cultura de respeito à diversidade e, mais precisamente, aos direitos humanos. “Nosso país terá que avançar muito para alcançar o patamar de maturidade, compromisso e protagonismo quanto a esses valores”, assinala. U. Zumbi dos Palmares


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